Muitos leitores, no auge da pandemia, compartilharam que estavam propensos a resgatar valores há muito tempo esquecidos em garagens e sótãos, como LPs e surrados toca-discos de seus pais ou irmãos mais velhos.
O que mais chamou minha atenção é o quanto esses leitores desconheciam o terreno que estavam se embrenhando (o que um isolamento longo não nos causa…), e as dúvidas eram das mais bizarras às mais sensatas.
Escrevi inúmeras vezes, nesses 28 anos, que ter um setup analógico extrapola a todos os impulsos, dos mais racionais aos emocionais. E como virou moda, o custo para iniciar do zero se tornou exorbitante até mesmo para audiófilos mais abonados. Então, meu amigo, antes de ler esta minha avaliação do toca-discos Attessa da Roksan, certifique-se que você realmente deseja conhecer mais uma opção consistente no segmento de entrada de toca-discos, produzido por um fabricante com uma longa folha corrida de bons serviços.
Todo fã de analógico certamente, ao ouvir o nome Roksan, irá se lembrar do Xerxes, lançado em 1985, que causou um alvoroço no mercado por não usar molas em sua plataforma e ter uma performance impressionante. Quarenta anos depois do Xerxes, a Roksan apresenta ao mercado seu toca-discos mais modesto, porém ainda extremamente meticuloso e bem construído.
O fabricante disponibiliza o Attessa em dois acabamentos: branco e preto. Um primeiro contato visual mostra um conjunto braço, prato e plataforma, bastante vistoso e limpo. Eu gosto bastante, pois permite aos ‘marinheiros de primeira viagem’ perder um pouco do receio de que são mais frágeis do que realmente são.
Gosto do acabamento arredondado da base, que permite ver o quanto detalhes simples podem enobrecer o acabamento final. Seu prato de vidro faz um belo contraste com a base, e o tapete de feltro é honesto e funcional – mas que ao ser substituído pelo tapete da Origin Live, melhorou expressivamente tanto no ataque das notas como na precisão e recorte das imagens sonoras de solistas e naipes.
O prato tem 10 mm, e possui uma borda de alumínio anodizado. Seus comandos de velocidade e acionamento da correia são precisos, e suficientemente silenciosos para não atrapalhar nas passagens em pianíssimo da música.
Você pode alterar no comando a velocidade de 33 para 45 RPM, e essa mudança é feita com uma micro pausa, antes do motor ganhar velocidade e estabilizar. Um LED pisca até a velocidade ser estabilizada, mostrando ao usuário que o Attessa está pronto para tocar.
Nunca fui fã de braços unipivot, pois como tenho uma mão pesada, a sensação que tenho é que vou danificar o braço cada vez que tiro e coloco um disco. Mas tudo é uma questão de jeito, e conheço inúmeros audiófilos que não abrem mão de seus braços unipivot, pois defendem que seu rastreamento dos sulcos é ainda mais correto e preciso.
Eu não teria – mas, como disse, não por limitações na performance e sim pela falta de ‘tato’ no manuseio diário.
O Attessa vem com uma cápsula Dana MM de fábrica, também da Roksan. Segundo o fabricante, a Dana utiliza uma agulha de diamante de ponta elíptica de diamante/titânio, tensão de saída de 3,5 mV, impedância de 47 Kohms (como toda MM). E para os que estão comprando seu primeiro toca-discos ‘de verdade’, a agulha Dana pode ser reposta pelo próprio usuário (se consegue manusear um braço unipivot, consegue tranquilamente trocar a agulha quando chegar a hora).
A Roksan recomenda de 1.8 a 2.2g de peso. O trabalho do usuário é de medir a gramatura correta da cápsula com uma balança digital, travar o contrapeso depois de feito o ajuste, e o resto já vem ajustado de fábrica. Tanto que, desta vez, não precisei chamar meu escudeiro André Maltese para colocar o toca-discos para funcionar.
Para o teste utilizei os prés de phono Gold Note PH-10 e Cambridge Alva. O resto do sistema foi o de referência da revista, e a caixa a maior parte do tempo utilizada foi a Monitor Audio Platinum 200 G3.
Como o toca-discos MoFi StudioDeck +M (leia teste na edição 299) havia acabado de sair, foi fácil repassar todas as faixas da Metodologia e avaliar a performance do Roksan Attessa. São toca-discos absolutamente antagônicos – enquanto o MoFi prima pela precisão e condução do sinal com extrema autoridade, o som do Roksan é mais relaxado sem deixar de ser bastante preciso. Se você me disser que sua praia é mais música com inúmeros instrumentos e grandes variações dinâmicas, o MoFi certamente será a opção mais segura. Agora, se sua praia são pequenos grupos, vozes, instrumentos acústicos em formação de trios até quintetos, dê uma chance para o Roksan, e ele irá te surpreender.
Extremamente detalhista, ele se sente à vontade em apresentar um som mais intimista e pautado nas texturas e nuances, de como o instrumentista acaricia seu instrumento. Utilizei o termo ‘acariciar’, que pouco utilizo, ao passar as faixas mais intimistas e ficar com essa impressão.
O exemplo mais claro dessa impressão foi Beatriz, na voz de Milton Nascimento, acompanhado de piano e cordas. Foi uma apresentação menos intensa dos crescendos, porém bastante comovente na interpretação magistral de Milton.
O equilíbrio tonal da cápsula Dana carece de maior extensão em ambas as pontas sem, no entanto, deixar a sensação de agudos capados e graves sem peso. O que a Dana enaltece de maneira incisiva são a micro-dinâmica e as intencionalidades na apresentação das texturas, principalmente em toda a região média.
Para os amantes de gravações de rock dos anos 70, essa característica em gravações com pouca extensão nas duas pontas, irá soar como bálsamo aos ouvidos. Infelizmente a nossa MPB dos anos 70 está recheada de gravações tecnicamente capadas nas pontas, e que em toca-discos com cápsulas Leson ficavam indecentes. Isso não ocorrerá nem com o Attessa e nem com a Dana.
O soundstage é excelente, com uma materialização 3D do palco à sua frente, em que podemos observar a altura dos músicos, profundidade do palco e largura.
Como já escrevi, as texturas são muito bem alinhavadas no tecido musical, e somos capazes de acompanhar cada voz sem esforço nenhum.
Os transientes, depois de nos acostumarmos com a precisão do MoFi e sua cápsula também MM, fica difícil não fazer uma comparação direta. E nesse quesito, o conjunto Dana com braço do Attessa perde. Não de maneira feia, mas perde. Não que falte algo, mas aquela precisão milimétrica de tempo e ritmo é mais solta no Attessa/Dana. Nada que tire a beleza de ouvir música com enorme variação de tempo e milimétrica sem aquele ‘UAU!’ na garganta.
A dinâmica, na micro é exemplar, e na macro muito correta.
O corpo harmônico, como todo bom toca-discos e cápsula, deixa o digital se sentido envergonhado.
E a materialização física, nas excelentes gravações, estará ali ao alcance do seu olhar e mãos!
CONCLUSÃO
Se você deseja realmente iniciar uma ‘carreira’ analógica, coloque na sua mente que o investimento em um toca-disco de bom nível estará hoje acima de 15 mil reais (com cápsula MM). Se você está disposto a investir isso, e mais esse valor no pré de phono se seu integrado ou pré de linha não tiver um phono embutido, o Roksan Attessa deve estar nessa sua lista de opções a serem escutados seriamente.
Muito bem construído, feito inteiramente na Inglaterra, por um fabricante com mais de 40 anos de estrada, e com excelentes toca-discos, que estão perfeitamente funcionando ainda hoje.
Um design limpo, mas minuciosamente bem pensado e o mais importante: correto!
Como disse, existem pessoas que têm a mão de cirurgiões e irão se deliciar com um braço unipivot. Se esse é o seu caso, meu amigo, ouça-o. E se couber no seu orçamento, divirta-se! Pois ele tem muito a oferecer musicalmente.
PONTOS POSITIVOS
Muito bem construído e uma performance acima do seu preço.
PONTOS NEGATIVOS
Braço unipivot não é para trogloditas.
ESPECIALIZAÇÕES
Pino do prato | Aço inox 303 |
Rolamento do prato | Aço |
Receptáculo do rolamento do prato | Bronze |
Prato | Alta-massa com 10mm em vidro com borda em alumínio anodizado |
Estrutura | Isolada em uma só base |
Isolamento | Desacoplamento 1-nível |
Motor | 24 Pólos Síncrono isolado contra vibrações |
Polia | Alumínio sólido |
Controle de velocidade | Gerador de sinal AC sinterizado digitalmente em alta precisão, com saída de alta corrente e baixa distorção |
Velocidades | 33 RPM & 45 RPM (comutável) |
Pré de Phono Interno | MM embutido (com botão de liga/desliga) |
Ganho do Pré de Phono Interno | 42dB @ 1kHz |
Relação Sinal/Ruído do Pré de Phono Interno | 64dB |
Impedância do Pré de Phono Interno | 47k / 100pF |
Saída | RCA estéreo (com cabo fornecido) |
Alimentação | 5V 1.5A |
Rolamento do Braço | Unipivot |
Material do Braço | Alumínio 5052 com parte de baixo em ABS |
Comprimento Efetivo | 240 mm |
Massa Efetiva | 14.9 g |
Pesos de Tracionamento Recomendados | 1.8 – 2.2 g |
Fiação Interna do Braço | 0.08OFC cobre |
Dimensões [incluindo tampa (L x A x P)] | 432 x 115 x 353 mm |
Peso | 6.3 kg |
TOCA-DISCOS ROKSAN ATTESSA
Equilíbrio Tonal 10,0
Soundstage 11,0
Textura 10,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 11,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 12,0
Total 86,0
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0
Link para o teste completo: