A primeira pergunta que me fiz ao receber o fone da Mark Levinson para teste foi: ele está à altura dos ‘pergaminhos’ dessa lendária marca hi-end? Pois entrar em um mercado tão competitivo de fones de ponta, apenas para cumprir ‘tabela’, não imagino que seja o objetivo deste fabricante.
E, por outro lado, já que a Mark Levinson pertence ao grupo Harman, que também tem debaixo de seu guarda-chuva os conceituadíssimos fones AKG, e os fones JBL, que razão estratégica levou o grupo a desenvolver um fone para a Mark Levinson?
E quase que todas as dúvidas foram respondidas, assim que recebi o fone em sua bela embalagem e pude ter o primeiro contato visual com o produto. Trata-se de um produto premium voltado claro para o audiófilo que busca um fone moderno com cancelamento de ruído, Bluetooth e opção de uso com cabos, que seja altamente confortável, versátil e eficiente.
Os leitores que lêem a Audiofone, conhecem minha opinião a respeito do grau de performance hoje dos melhores fones Bluetooth, que assim como o streamer em relação a mídia física ainda não chegou lá, o mesmo ocorre com a essa tecnologia em relação aos fones com fio.
A Mark Levinson não deixa claro se o primeiro fone com a marca Mark Levinson foi desenvolvido pela divisão AKG, mas fica evidente que ele passa a ser um membro de destaque da família Harman Luxury Audio, como todo produto com a marca Mark Levinson.
O Nº 5909 é um Bluetooth 5.1 com codecs AAC, aptX Adaptive e LDCA. Segundo o fabricante, a inclusão do LDCA é importante para a qualidade final do 5909, pois oferece capacidade de envio de sinal em 24-bits/96 kHz.
O 5909 utiliza drivers dinâmicos de 40 mm, revestidos com berílio. Segundo o fabricante, a escolha do berílio é pelo fato de oferecer um aumento considerável de rigidez, sem o aumento de massa efetiva, pelo fato deste metal ter um peso atômico menor.
Foi dado um enorme cuidado ao cancelamento de ruído, com o uso de quatro microfones, em vez de apenas dois como na maioria dos concorrentes. Esses quatro microfones comparam os níveis de ruído interno e externo, e respondem nas configurações adaptativa padrão com: modo alto, médio ou baixo, mantendo a passagem de voz para que o contato externo não se perca.
O fone 5909 é um design fechado, com sua cúpula de alumínio com pintura automotiva, couro sintético e com a opção na cor vermelha. O produto tem uma excelente ergonomia, e caso você deseje extrair todo o potencial deste fone, o fabricante dispõe de dois excelentes cabos de 1 e de 3 metros.
O 5909 tem uma autonomia estimada de até 34 horas de funcionamento com ANC desligado, e 30 horas com. Em viagens, o fone pode ser recarregado em 15 minutos para autonomia de mais 6 horas.
Para o teste, liguei em Bluetooth para ouvir streaming Tidal e QoBuz, direto do Innuos ZENmini Mk3, e testei o cancelamento de ruído enquanto fazia essas audições.
Confesso que seria minha última opção na vida usar um fone desse nível em Bluetooth, pois é tão inferior a plugar o fone com seu excelente cabo direto no pré de fone do CLASSIC PREAMP da Nagra, que fazer uma comparação de alto nível fica praticamente impossível.
Então, mais uma vez tenho que afirmar que Bluetooth não pode ser considerado hi-end. No máximo, eu o classificaria como um correto hi-fi de entrada. Pois a música perde o encanto, a magia, se tornando uma reprodução meramente burocrática e nada mais.
Já o cancelamento de ruído é bastante funcional nos três modos existentes.
Agora, ligado a um bom amplificador de fone, o Nº 5909 se transforma literalmente! Excelente equilíbrio tonal, com excelente extensão em ambas as pontas, graves precisos sem o risco de desaparecerem em volumes bem reduzidos, e agudos sem nenhum resquício de coloração, brilho ou falta de arejamento. A região média é bem definida, com excelente recuperação de microdinâmica, e um correto equilíbrio entre transparência e conforto auditivo.
Seu design permite um bom isolamento do ruído externo sem precisar fazer uso de seu cancelamento de ruído, em ambientes com ruídos externos de até 66 dB!
O que o torna um fone excelente para quem tem que dividir seu espaço de audição com o restante dos familiares. E também, em volumes corretos, as pessoas em volta não serão incomodadas pela música.
Ainda que o 5909 possa ser usado ligado ao seu celular, eu não indico essa opção, pois ele será totalmente subutilizado. Seu investimento obviamente é para ser o fone de referência de quem deseja um produto de alto nível.
Com o grau de equilíbrio tonal do 5909, as texturas ganham muito em riqueza e intencionalidade. Permitindo ao ouvinte se embrenhar nas entranhas das gravações sem no entanto as mesmas se tornarem frias ou desinteressantes. Pelo contrário, com o 5909 essa possibilidade quando estiver em um amplificador de fone à sua altura, a música sempre estará em primeiro plano como um todo.
Bato muito nessa tecla de se ouvir o ‘todo’, pois percebo que inúmeros fones hi-end, que apostam em uma ultra transparência, tendem a ser empolgantes nas primeiras audições, quando vamos ‘descobrindo’ detalhes desconhecidos, e que, no entanto, se tornam rapidamente fatigantes.
Essa não é a assinatura sônica do 5909. Com ele a música será fornecida ‘equilibradamente’, sem extrapolar o conceito de ter, no mesmo peso, transparência e musicalidade.
A reprodução de transientes é primorosa, com um grau de precisão e domínio de tempo, ritmo e andamento que empolga e, ao mesmo tempo, nos mantém presos ao acontecimento musical. Para esse quesito, eu utilizo bastante o CD do baterista Vinnie Colaiuta – o de capa cinza – em que, como dizem os músicos, simplesmente “destrói” os andamentos, que dão um nó na cabeça de tão bem executados.
Para o leitor que não conhece esse virtuose, vou contar um fato que correu o mundo no meio musical. Frank Zappa, quando ia contratar um novo músico para sua banda, adorava pregar peças para ver o grau de conhecimento do candidato. E para os bateristas escrevia passagens ultra complexas, que exigiam que eles fossem lendo, executando, parando para ler mais um pedaço, e aí executar mais um trecho. Vinnie Colauita, segundo o próprio Zappa, foi o único baterista que ele conheceu que leu e executou sem erro a ‘pegadinha’. Levando o Frank Zappa a gravar com ele naquele dia mesmo!
É um baterista de uma precisão que beira o perfeccionismo absoluto, porém com alma e um swing espantoso. Não conheço exemplo mais matador para avaliação de transientes de fones que este disco.
A macrodinâmica, como em todo excelente fone de ouvido, nos volumes seguros, é excelente, permitindo ouvirmos os degraus dos crescendos sem aquela incômoda sensação de saturação e endurecimento tão comuns quando extrapolamos o volume.
O corpo é muito coerente, e nos permite compilar e perceber as nuances e escolhas do engenheiro de gravação na escolha dos microfones e posicionamento dos mesmos, em relação aos instrumentos. Gostei da apresentação de grupos de jazz, folk, música de câmara e vozes à capela, nos dando uma nítida imagem do tamanho dos instrumentos nas gravações em que este quesito foi cuidadosamente gravado.
A materialização física em nossa cabeça com esse fone será bem mais fácil que em alguns fones similares em preço e proposta. As vozes, por este ter uma região média tão bem resolvida, nos permitem degustar de cada sílaba e realmente a ausência de fadiga e o grau de naturalidade, colaboram para o prazer auditivo.
CONCLUSÃO
Muitos dos leitores que tomam coragem e nos questionam, perguntam frequentemente se é preciso investir 2 mil dólares para se ter um grau de refinamento hi-end? Minha resposta é sempre a mesma: depende do grau de expectativa de cada um.
Parece que estou querendo, com essa resposta, sair pela tangente, mas não é isso. A pergunta correta que todos devemos fazer é: que nível se encontra a fonte em que eu escuto minha música?
Se você escuta streamer em seu celular, ou em um DAC de 200 dólares, evidente que você não precisa de um fone de 2000 dólares. Um fone de 200 dólares bem equilibrado tonalmente irá ser mais do que suficiente.
Agora, se você possui ou pensa em investir em um amplificador de fone de 1000 a 2000 dólares, e possui um bom DAC e escuta streaming com um padrão de qualidade mais refinado, evidente que todo bom fone entre 1000 a 2500 dólares deveria estar em sua ‘órbita’ de consulta.
Pois é para esses setups de mais alto nível que fones como o Nº 5909 podem fazer toda a diferença, e compensar integralmente seu investimento em tempo e dinheiro.
A segunda pergunta que recebemos é: mas eu ouvirei as diferenças entre o fone de 200 que uso e o de 2000 dólares? Não em seu celular, mas em um setup a altura, certamente que sim.
E mesmo que o leitor se sinta inseguro em descobrir essas diferenças, tenho uma dica infalível. Pegue umas duas ou três faixas que você ama, que soem com dificuldade em seu setup de referência, e escute em um setup de maior qualidade, refinamento e folga, com um fone como o 5909, e o conforto auditivo e o grau de inteligibilidade irão ser audíveis no primeiro acorde. Não se prenda a observar os graves, médios e agudos. Se atenha ao conforto auditivo e à facilidade com que a música floresce em nossa cabeça. Para fazer esse exercício, não precisamos ter ouvidos treinados, ou anos de audições em sistemas sofisticados, apenas precisamos fazer uso de gravações que conhecemos bem.
O Mark Levinson Nº 5909 é um excelente fone (com fio, rs) e um bom fone Bluetooth. Para quem faz longas viagens aéreas, pode ser um companheiro inestimável, para suportar o alto ruído interno de toda aeronave e ainda ouvir música com um bom nível de inteligibilidade e conforto.
Para a primeira entrada neste mercado de luxo, a Mark Levinson acertou em cheio!
PONTOS POSITIVOS
Excelente conforto e muito versátil.
PONTOS NEGATIVOS
Precisa de fonte e um pré de fone a sua altura.
Tipo | Fone de ouvido Premium sem fio, de alta-resolução, com Cancelamento de Ruído Adaptivo |
Driver | 40mm com cobertura de berílio |
Resposta de frequência | • 10Hz a 40kHz (passivo) • 20Hz – 20kHz (ativo) |
Sensibilidade | • 97dB (1mW/1kHz @SPL) • 98dB máximo |
Potência admissível (passivo) | 100mW |
Sensibilidade do microfone | -32 dBV@ 1kHz |
Impedância | 32 ohms |
Bluetooth – perfis | A2DP 1.3.1, AVRCP 1.6, HFP 1.7.1 |
Bluetooth – versão | v5.1 |
Bateria | 750mAh / 3.7V de Lithium-ion |
Fonte de alimentação | 5V / 1A |
Tempo de carregamento | 100 minutos |
Música via Bluetooth | 34 horas de bateria |
Música com Bluetooth (com ANC) | 30 horas de bateria |
Música via Cabo (com ANC) | 30 horas de bateria |
Dimensões | 202.6 x 205.4 x 65.4 mm |
Peso | 340 g |
FONE DE OUVIDO MARK LEVINSON Nº 5909
Conforto Auditivo 12,0
Ergonomia / Construção 11,0
Equilíbrio Tonal 11,0
Textura 11,0
Transientes 12,0
Dinâmica 10,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 12,0
Total 90,0
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0
Link para o teste completo: