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DAC HEGEL HD30 – Edição 240

Se havia um produto que desejava testar há muito tempo, esse produto era o DAC modelo HD30 da Hegel. Pois escutando os DACs internos dos integrados H300 e H360, sempre fiquei com a sensação que a Hegel tinha muito mais a entregar em um conversor digital à altura dos seus produtos mais top, como o power H30.

Então, quando o HD30 foi lançado, em meados de 2016, comecei a acompanhar sua performance pelo mundo e decidi pedir para o novo importador nos disponibilizar um, assim que possível. Foram longos meses de espera, até que finalmente recebo um telefonema do Edmar (diretor da Mediagear) dizendo que no novo lote de importações estava vindo o nosso pedido.

O HD 30 ganhou enorme notoriedade pela sua performance com um custo muito admissível (até para países emergentes), pois sua versatilidade permite ao audiófilo substituir o pré de linha por ele, com muitas vantagens. A própria Hegel não admite publicamente, mas deixa nas entre linhas que o HD30 pode substituir seu pré top, o P30, sem perda alguma de qualidade!

O HD30, como todos os produtos desta marca norueguesa, não prima por nenhum acabamento luxuoso, jogando todas as suas fichas na performance do produto e não na beleza externa. Possui todo o tipo de entrada digital hoje oferecida ao mercado, como: S/PDIF coaxial, TosLink ótico, USB, Ethernet, BNC e a minha preferida, a AES/EBU. O fabricante especifica em seu manual que todas as entradas são capazes de reproduzir PCM até 24-bit/192 kHz, e pela entrada USB é capaz de converter DSD64 e DSD128.

Na saída, o usuário terá a sua disposição RCA e XLR – ambas com 2,6 VRMS. O HD30 utiliza, entre cada entrada e saída, um chip ALM AK4490EQ para cada canal. E em relação ao DAC HD12, todas as fontes de alimentação e os estágios de saída analógicos foram aprimorados.

A entrada USB – chip C-Media – opera sem drivers para reprodução PCM 24/192, em sistemas operacionais compatíveis com USB Audio Class (MacOS e Linux). A reprodução de áudio 24/96 é possível no Windows, sem instalação do driver, selecionando o Modo A usando a chave na parte traseira do chassi do Hegel. Já a reprodução DSD64 via USB é possível a partir de um Mac usando Roon, JRiver Media Center e Audirvana. Para DSD128, algumas opções são: PC com o Windows 10 ou JRiver Media Center. Eu não utilizei nenhuma dessas plataformas para o teste, peguei essas informações de testes feitos lá fora.

Nossa avaliação focou a qualidade de reprodução PCM em 16-bit/44kHz usando como transporte o dCS Scarlatti e o CD-Player Emotiva ERC-3 (leia Teste 5 nesta edição), pelas entradas digitais AES/EBU e Coaxial, e o HD30 como pré de linha ligando com o sistema Scarlatti, o CD-Player Emotiva e o DAC CH Precision C1.

Na parte de pré, o HD30 possui um controle de volume digital que vai de 0 a 100/101 (quando você o utiliza apenas como DAC, 101). O nível de volume, cada vez que você liga o aparelho, é definido automaticamente no 20. Quando o volume é fixado em 101, o equipamento ignora toda a atenuação digital.

Para o teste, além dos equipamentos já citados acima, utilizamos os powers Hegel H30 e CH Precision M1. Cabos digitais: Quintessence coaxial, Quintessence XLR e Crystal Cable Absolute Dream. Cabos de interconexão: Sax Soul Ágata RCA e XLR, Quintessence RCA e XLR, e Transparent Opus G5 XLR. Cabos de caixa: Transparent Reference XL MM2 e Quintessence (leia Teste 4 nesta edição).

Caixas acústicas: Dynaudio Contour 60 (leia Teste 3 nesta edição), DeVore 88x e Kharma Exquisite Midi. Cabos de Força: Chord Sarun e Transparent PowerLink MM2.

Primeiramente avaliamos o HD30 como DAC, ligado aos prés de linha Dan D’Agostino e CH Precision L1. Posteriormente avaliamos o HD30 como pré de linha ligado direto aos powers H30 da Hegel e CH Precision M1.

Tenho muito acesso ao integrado H360, de um grande amigo que desde que realizou esse upgrade (troca do integrado), passou a utilizar o seu CD Player como transporte ligado ao DAC interno do integrado H360, através de um cabo digital coaxial. As melhorias no sistema deste amigo foram sólidas e significativas!

Já havia achado muito interessante o DAC interno do integrado H300, e foi uma grata surpresa a melhora ainda maior no DAC interno do H360. Fizeram uma fonte dedicada, o que tornou o DAC interno muito mais silencioso. Os nossos leitores que acompanharam ambos os testes dos integrados, se lembrarão que tivemos o cuidado de dar uma nota para o integrado e uma nota separada para o DAC interno. No H360 a distancia entre a performance do amplificador e o DAC interno diminuiu sensivelmente, porem não a ponto de igualar a performance analógica do produto.

Partimos para a avaliação do HD30, comparando com a performance do DAC interno do H360 (que atingiu 88 pontos). Posso dizer que não deu nem para o primeiro round! Pois tratam-se de produtos de níveis muito distintos. O HD30 é um produto Estado da Arte de altíssimo nível. Seu silêncio de fundo permite que o som brote com tamanha naturalidade e leveza que levamos alguns segundos para nos adaptar à riqueza de detalhes que surgem da mais sutil micro-dinâmica audível! Esse silêncio surpreendente também nos apresenta um foco e recorte tão preciso como as duas referências que utilizamos para o teste (dCS e CH Precision)! Com um pequeno detalhe: o HD30 custa uma fração desses dois DACs!

O HD30, como todos os produtos da Hegel, precisa de uma estabilização de temperatura – para dar o seu melhor. Sua queima foi das mais tranqüilas – com 50 horas já podíamos desfrutar de audições repletas de calor, transparência e naturalidade. Após 180 horas de amaciamento, o HD30 estabilizou de tal maneira que as únicas alterações em sua assinatura sônica ocorreram com mudança nos cabos digitais e de força. Sua compatibilidade com nosso sistema de referência foi total!

O HD30 possui aquele raro equilíbrio entre energia e conforto auditivo. Não espere dele nenhum tipo de performance pirotécnica, que nos faz pular da cadeira em um fortíssimo, mas também não espere uma apresentação letárgica.

Ele possui um controle absoluto das variações dinâmicas, e só se apresenta quando a música assim exige. Por que digo isso? Porque existem DACs e sistemas que parecem estarem sempre trabalhando ‘nervosos’, prontos para dar o bote. Esses são os sistemas que traduzo como ‘pirotécnicos’, que agradam por algum tempo e depois nos cansam até nos fatigarem!

O HD30 é a antítese dessa escola. Sua virtude está em justamente ter fôlego e controle suficiente para não comprometer sua performance em nenhuma situação e proporcionar ao audiófilo horas e mais horas com seus discos preferidos.

Seu equilíbrio tonal é notável, e a extensão correta em ambas as pontas, com decaimento suave, corpo e velocidade. Ficamos extasiados ao ouvir como os graves soam, sempre presentes e precisos na marcação de tempo e ritmo. Produtos com este grau de refinamento não chamam a atenção para si, se colocam a serviço da música e nada mais.

Os planos são excelentes, com ótima altura, largura e profundidade. Com as três caixas utilizadas no teste o resultado em termos de palco sonoro foi excelente! Os planos da orquestra, assim como os solistas, são espalhados com tamanha precisão que você aponta o que escuta. Os engenheiros da Hegel se debruçaram de tal maneira em conseguir o melhor silêncio de fundo possível que os resultados simplesmente afloram a cada audição.

Eu sou um fã de carteirinha da apresentação de textura do amplificador H30, acho-o neste quesito de nossa metodologia uma referência a ser batida. Já escutei outros powers no mesmo nível (todos mais caros, e alguns um ‘caminhão de dinheiro’ mais caro), mas nenhum outro produto da Hegel havia se mostrado tão exemplar neste quesito, como o H30. Agora ele tem um par à sua altura: o HD30. Os naipes de cordas, sopros, vassouras nas caixas de bateria, são tão ricos, precisos e detalhados que conseguimos sentir além de ouvir.

Fiz algumas audições em que a intencionalidade era tão presente que o corpo reagiu levantando os pelos do braço! Esse é um fenômeno físico raro de me ocorrer em audições, pois não foi uma ou duas vezes – foram diversas!

Sua dinâmica é exemplar, pois não compromete de maneira alguma uma audição correta. Ele se mostra autoritário quando exigido, mas sempre com uma folga enorme (presente apenas em nossos dois DACs de referência: dCS e CH Precision). Em gravações tecnicamente excepcionais, o grau de presença física do acontecimento musical é soberbo! Nos levando a ‘ver’ o que estamos a ouvir. Escutando um coral à capela russo, foi possível perceber todo o esforço dos barítonos para manter o alongamento da nota até o fim da obra. Com tamanho realismo, que ouso dizer que eram de seis a oito barítonos no coral! Pois ainda que o esforço de cada naipe soar uníssono deva ter sido ensaiado a exaustão, a gravação que valeu teve esse pequeno vacilo em que uns dois ou três não conseguiram sustentar a nota até o pianíssimo!

Não cito este exemplo como um defeito do HD30 (pois pode parecer que sua micro-dinâmica seja muito transparente). Não é isso – é para mostrar que o grau de materialização física do acontecimento musical nos coloca muito próximos, como se tivéssemos tido a oportunidade de acompanhar a gravação.

Como pré de linha utilizei por mais tempo ele ligado com seu par de direito, o H30, e fui buscar minhas anotações do P30 para relembrar os discos usados e o set de cabos. Para minha surpresa, gostei mais do HD30 tocando em conjunto com o power H30 do que o pré-amplificador P30. Achei o conjunto mais musical, com maior silÊncio de fundo e maior folga e autoridade. A questão é que, no HD30 o usuário não poderá ligar nada além de uma fonte digital. E no P30 pode-se ligar diversos outros produtos (como um toca-disco, gravadores de rolo, etc). Mas, se o usuário só tem por objetivo e interesse usar um computador ou um transporte, eu indico o HD30 como a melhor solução, pois sonicamente ele também se mostrou superior em todos os quesitos de nossa metodologia.

CONCLUSÃO

Muitos leitores reclamam que existe uma enorme lacuna entre os DACs acessíveis de mercado e os DACs Estado da Arte. E que nessa lacuna se encontra justamente o maior potencial de compradores que desejam fechar um sistema Estado da Arte definitivo sem comprometer sua renda ou seus bens. Parece que os fabricantes de hi-end começam a virar suas baterias justamente para esse nicho de mercado.

Ainda que o valor do HD30 esteja acima dos DACs de preço intermediário, pela sua versatilidade e performance muitos audiófilos certamente irão levar em conta esse pacote de vantagens. Afinal você não está levando apenas um espetacular DAC Estado da Arte, você está levando também um excelente pré de linha! Assim deve ser pensado o HD30, como um produto que atende tanto o mercado premium como o jovem audiófilo que deseja ir para o topo definitivamente.

Minhas expectativas em relação ao produto foram todas batidas. Esperava muito deste DAC, mas não sabia que seu nível de refinamento ombreava com produtos muito mais caros. Saber que você pode ter um DAC de tão alto nível nessa faixa de preço é uma noticia que merece ser divulgada a todos!

Se você se encaixa no perfil de audiófilos que buscam simplificar seu sistema, ampliando a performance, não deixe de ouvir o HD30 o quanto antes!

PONTOS POSITIVOS
Excelente construção, custo e uma performance Estado da Arte.

PONTOS NEGATIVOS
O preço, ainda que mais ‘realista’, é fora do alcance de muitos.

ESPECIFICAÇÕES

Tipo de DAC32-bit dual-mono
Voltagem de saída2,6 V
Entradas digitaisÓtica, coaxial, AES / EBU, BNC, USB, RJ-45
Entradas analógicasRCA, XLR
Resposta de frequência0 Hz a 50 kHz
Consumo170 W
Relação Sinal / Ruído150 dB
Distorção Harmônica Total0.0005%
Dimensões (L x A x P)43 x 8 x 31 cm
Peso6,5 kg

DAC HEGEL HD30 (COMO PRÉ-AMPLIFICADOR)

Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 11,0
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 94,0

DAC HEGEL HD30 (COMO DAC)

Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 13,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 96,0


VOCAL: 10
ROCK . POP : 10
JAZZ . BLUES: 10
MÚSICA DE CÂMARA: 10
SINFÔNICA: 10

Link para o teste completo: