A Q Acoustics é uma empresa britânica de áudio única. Digo única porque ela segue na contramão dos seus concorrentes, fidelizando seus clientes de uma maneira bastante interessante. Ela não costuma lançar uma nova caixa acústica a cada ano, ao contrário disto, ela faz melhorias em seus produtos em linha dando novo fôlego aos produtos já vendidos, já que pouco se desvalorizam, e atraindo seus clientes cativos para novas atualizações sem que com isso precisem vender um rim para fazer um upgrade.
O tempo entre cada atualização também faz parte do respeito da marca para com seus clientes. Geralmente uma nova atualização de uma linha demora anos para ser anunciada, dando tempo para o comprador desfrutar plenamente de seu equipamento antes de pensar em upgrade.
Eu fiquei muito feliz quando soube que a Mediagear iria disponibilizar tanto a bookshelf 3020i quanto a torre 3050i para testes, além do modelo topo de linha. É uma marca pela qual tenho profundo respeito e admiração, justamente por ter esta política de trabalho que, a meu ver, é mais “humana” que comercial.
Para esta edição, iniciaremos pela caixa acústica Q Acoustics 3020i bookshelf, a irmã menor desta série. O design da Q Acoustics não muda tanto assim de um modelo para outro, suas linhas são elegantes e extremamente harmoniosas. São delicadas, pois escondem bem os parafusos e os encaixes do gabinete com muita eficiência, porém não parecem femininas ou obras de arte do período barroco. Elas passam aquela sensação de firmeza e robustez mesmo tendo seus drivers adornados por apliques, com aquele cromo profundo de alta qualidade, do tipo que se vê em carros de luxo.
A Q Acoustics disponibiliza quatro opções de acabamento: cinza grafite, nogueira inglesa, preto carbono ou branco ártico. A que veio para teste tem acabamento preto carbono. O gabinete tem a mesma tecnologia das Concept 500, possuindo travamento ponto a ponto, conferindo maior rigidez ao gabinete e reduzindo ressonâncias.
Na parte de baixo temos dois parafusos que fazem o serviço do travamento do gabinete e que também servem para fixar a caixa ao pedestal. Se não tiver pedestais, ela vem com pequenos pés de borracha que ajudam no desacoplamento dela com a superfície onde será repousada.
O alto-falante de 12,5 cm possui um novo revestimento de borracha de baixa distorção que promete maior rigidez ao cone. O tweeter de 20 mm é desacoplado do gabinete por um sistema de suspensão de silicone, ficando livre das vibrações do woofer.
Na parte de trás estão os bornes, bastante exóticos, por sinal. Não seguem o padrão comum, mas cumprem seu papel corretamente. Por não terem estrias na parte atarraxante, se estiver utilizando cabos com terminação spade, é preciso se certificar com atenção se estão mesmo presos, pois o borne é liso nos dois extremos.
COMO TOCA
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: amplificador integrado Sunrise Lab V8 MkIV, e amplificador integrado Anthem STR. Fontes: CD-Player Luxman D-06, toca-discos de vinil Reloop TURN 2. Cabos de força: Transparent PowerLink MM 2, Sunrise Lab Premium Magic Scope. Cabos de interconexão: Sunrise Lab Premium Magic Scope RCA, Sunrise Lab Reference Magic Scope RCA, Sax Soul Zafira III XLR. Cabos de caixa: Sunrise Lab Reference e Quintessense Magic Scope.
Como quase sempre acontece, a caixa veio nova, zero Km. No momento de desembalar, percebi algo que talvez seja o único pênalti contra esta caixa: a tela de proteção. Ela possui um orifício onde o tweeter deveria se encaixar – é verdade que no aro cromado do woofer existe uma “guia” para posicionar a tampa e alinhar com o tweeter, mas é quase impossível não raspar uma ou duas vezes a parte plástica da tampa no tweeter. É preciso cuidado e paciência para acertar em cheio. Fora isto, tudo OK. O melhor posicionamento se deu com as caixas a 1,67 metros da parede de fundo e 50 centímetros das paredes laterais. O toe in ficou em 10 graus. O palco ficou ótimo e a extensão dos graves também. O amaciamento total se deu com 280 horas. Começamos com o disco Black Light Syndrome, do trio Bozzio Levin Stevens, faixas 3 e 5. Nestas faixas as diferentes variações de velocidade e de dinâmica, únicas de cada instrumento, fazem muitas caixas embolarem o som, apagando o contrabaixo quando a bateria toma o controle, ou apagando a bateria quando o violão assume lugar de destaque. A 3020i se segura firme, mantendo os planos e a inteligibilidade sob controle, o violão não salta para o nosso colo, nem a bateria cobre o contrabaixo, tantas vezes a ponto de nos fazer esquecer que o contrabaixo está lá também.
Os agudos são fantásticos, rápidos, precisos e com excelente corpo. Os transientes brotam por toda parte, a ambiência toma conta da sala e o grave se mantém sob controle com modulações que nos fazem duvidar de que esta pequenina consegue tanta extensão de graves.
No disco da Dianne Reeves, Bridges, faixa 2, sua voz soa limpa e extremamente suave, com um corpo muito bom e timbre bastante correto. O piano não espirra, nem soa desequilibrado em nenhum momento. A Q Acoustics 3020i soa sempre correta, com calor na medida certa para nos seduzir e fazer com que a música nos abrace e nos transporte para outra dimensão!
Fazia tempo que não me empolgava tanto com uma book, mesmo tendo duas em casa. Esta Q Acoustics me surpreende a cada novo disco que lhe apresento. Ela não se intimida com grandes massas sonoras, porém há um limite imposto pelo gabinete que, em algumas músicas, principalmente clássicas, não dá conta do recado como deveria. Mas até aí, qual book que faz este trabalho com pé nas costas, não é mesmo?
O ar deslocado pela 3020i é muito bom para o seu tamanho. É possível sentir algumas batidas no peito quando utilizado o volume ideal da gravação. Isto é um feito e tanto para uma book tão pequena.
Algo que me chamou bastante atenção é a maneira sutil que esta caixa toma conta do sistema. Sua correção tonal e seu equilíbrio entre as freqüências corrigem muitos dos deslizes cometidos pelo amplificador. Se o amplificador soa frio ou analítico, ela corrige. Se ele não tem velocidade, ela dá um jeitinho de tomar conta do sistema sem escancarar as estas limitações.
Isto pode ser bom e pode ser ruim… Para a fatia de mercado a que ela se destina, com amplificadores de entrada, e que certamente possuem alguns calcanhares de Aquiles, esta característica pode ser muito bem-vinda.
CONCLUSÃO
A Q Acoustics novamente nos surpreendeu apresentando uma caixa honesta, bonita, simples e eficiente. Com esta book, não tem mi-mi-mi: ela foi feita para tocar e tocar muito! Seu equilíbrio tonal com certeza faz dela compatível com os mais variados amplificadores modernos existentes no mercado. Seu fôlego é de book grande, então não tenha dó de colocá-la para tocar.
PONTOS POSITIVOS
Ótimo equilíbrio tonal e ótima organicidade. Acabamento sofisticado e de ótima qualidade. Pequena e estreita, fácil de se misturar em qualquer ambiente.
PONTOS NEGATIVOS
Tampa de proteção mal resolvida, se não tomar cuidado pode danificar o tweeter.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | 2 vias bass-reflex |
Driver de graves | 125 mm |
Driver de agudos | 22 mm |
Resposta de frequência (+3 dB, -6 dB) | 64 Hz a 30 kHz |
Impedância nominal | 6 Ω |
Impedância mínima | 4 Ω |
Sensibilidade (2.83 Vrms@1 m) | 88 dB |
Amplificação indicada | 25 a 75 W |
Frequência de crossover | 2.4 kHz |
Volume | 6.1 L |
Dimensões (L x A x P) | 170 x 278 x 282 mm |
Peso (cada) | 5.5 kg |
CAIXAS ACÚSTICAS Q ACOUSTICS 3020I
Equilíbrio Tonal 9,0
Soundstage 8,5
Textura 8,5
Transientes 8,0
Dinâmica 8,5
Corpo Harmônico 8,5
Organicidade 9,0
Musicalidade 8,5
Total 68,5
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 9,5
JAZZ . BLUES: 9,5
MÚSICA DE CÂMARA: 9,0
SINFÔNICA: 9,0
Link para o teste completo: