Felizmente essa volta do visual vintage no áudio hi-fi não me parece ser apenas uma jogada de marketing ou um saudosismo exacerbado.
De tudo que ouvi até o momento, todos possuem essa ‘roupagem’ anos 70, porém repletos de atualizações e soluções bastante surpreendentes em termos de performance e versatilidade.
E começarei minhas apresentações ‘vintage’ em 2022 pela série Classic da JBL, testando o modelo L82 neste mês e, em breve, a L100 Classic 75, edição especial de aniversário de 75 anos da empresa.
E teremos mais surpresas ‘vintage’, vindas da Inglaterra em breve!
Eu ouvi rapidamente a L100 Classic no começo de 2020, e fiquei muito encantado com sua assinatura sônica, já que cresci ouvindo o modelo original nos anos 70, em diversas configurações e salas de clientes do meu pai e na casa de amigos. E por mais que gostasse naquela época da caixa, tinha para mim que ambas as pontas eram por demais coloridas e desequilibradas.
E como é fácil sermos ‘preconceituosos’ ao extremo, ao ter a oportunidade de ouvir novamente a caixa, antes de iniciar a audição, me passou o filme de várias configurações que tive de ouvir com a caixa e achei que iria ouvir mais do mesmo, só que em um sistema atualizado, sala com tratamento acústico, elétrica tratada, etc.
E foi uma sonora surpresa ouvir uma caixa sem pontas ‘não amarradas’, um belo corpo harmônico, texturas refinadas, e um equilíbrio tonal digno de caixas hi-end. E achei que, quando um novo distribuidor fosse definido, seria importante poder testar e compartilhar com vocês os avanços conquistados na linha Classic.
E esse dia chegou e resolvi iniciar pela L82 Classic, por ser a metade do preço da L100 Classic e, no meu modo de ver, no atual momento do mercado e no tamanho das salas da esmagadora maioria dos nossos leitores, muito mais condizente com a nossa realidade.
Muitos leitores reclamam que, por mais que saibam que para seus espaços books sejam o ideal, relutam em aceitar essa verdade, por sentirem que as books que possuem melhor corpo e peso nos graves e médios-graves, são geralmente fora de seus orçamentos.
E tenho que concordar que, dependendo do gênero musical apreciado, books ’magras’ são uma decepção. E ao ouvir a L82 Classic pela primeira vez em um ambiente de 12 metros quadrados, a Sinfonia Fantástica de Berlioz, me dei conta do quanto essa book fugia do estereótipo de magreza, e do prazer e encanto que foi ouvir a orquestra soando na sala, com corpo, peso e energia.
E antes de descrever tecnicamente a L82 Classic, deixo aqui para a posteridade que discordo integralmente dos testes que afirmam ser essa JBL para apenas determinados estilos musicais (como li em alguns testes), pois ainda que a linha Classic não seja a última palavra em transparência ou o último fio de cabelo em extensão nos agudos, o que ela se propõe é que o ouvinte desfrute da música sem ficar se preocupando em analisar o conteúdo e sim aprecie a música!
Dito isso, vamos aos detalhes técnicos dessa pequena joia musical!
Com seus 13 kg, é uma book de tamanho e peso imponentes. Seu clássico woofer de 20 cm ainda é o feito com celulose branco, e seu tweeter de domo de titânio de 2.5 cm vem com um guia acústico semelhante ao da L100. Sua sensibilidade é de 88 dB, crossover com corte em 1,7 Khz, resposta de frequência de 44 Hz a 40 kHz.Altura 44 cm, largura 28 cm e profundidade 31,5 cm.
Para facilitar o posicionamento em salas menores, o pórtico bass reflex fica ao lado do tweeter, o que se mostrou excelente quando a colocamos em nossa sala de home theater com apenas 12 metros quadrados. Pois foi possível deixá-las a apenas 70 cm da parede às costas da caixa, sem acentuação do grave ou perda nas fundamentais.
Seu design, como teria que ser, é tipicamente anos 70, muito bem acabado, porém sem o brilho e detalhes de caixas hi-end atuais. O folheado é de nogueira sem aplicação de nenhum verniz. Eu gosto, mas eu sou um cara que conviveu com todas as caixas dos anos 60, 70 e 80, e todas eram assim em termos de gabinete. Os mais jovens eu não sei o que acham (minha filha de 13 anos, achou um caixote sem ‘apelo visual’ algum, mas quando ouviu a caixa, se encantou pela sonoridade).
O importador não trouxe seu pedestal dedicado oferecido pela JBL, então ficarei devendo dizer como elas se comportam em seus pedestais, mais baixos, com uma angulação que joga seu som para cima. Então testamos as L82 Classic nos nossos dois pedestais disponíveis: o da Magis Audio e o da Timeless.
Pela altura do tweeter, ela ficou melhor instalada no da Magis, que é alguns centímetros mais baixo que o da Timeless, e assim conseguimos um foco e recorte mais refinado. Outra questão a ser considerada é deixar os tweeters voltados para dentro ou para fora. Você terá que testar as duas posições, pois cada uma tem vantagens e desvantagens, dependendo do tamanho da sala, distância possível entre as caixas, e se você prioriza a largura do palco ou a consistência da imagem entre as caixas.
Na sala de home-theater, priorizamos a imagem entre as caixas deixando o tweeter para dentro, e na nossa Sala de Referência – muito maior – deixamos os tweeters para fora.
Dica importante, para uma maior profundidade, será preciso dar a elas a maior distância de tweeter à tweeter. Menos de 2 metros entre elas, mesmo mudando radicalmente o ângulo de escuta, a profundidade será limitada. O ideal é, no mínimo 2.80 m, aí pode-se administrar o ângulo voltado para o ponto ideal de audição. Em nossa Sala de Referência, elas ficaram a 1.80m da parede às costas, a três metros entre tweeters, e viradas 15 graus para o ponto de audição. Com a altura no pedestal da Magis, e com o tweeter ligeiramente acima das orelhas. Nessa posição, tanto largura como altura foram excelentes. A profundidade dependeu mais da qualidade da gravação do que das caixas.
Para o teste, utilizamos: powers Nagra Classic, integrado Mark Levinson 5802 e integrado Shuguang Audio SG-845-7. Pré de linha Nagra Classic, DAC TUBE Nagra, pré de phono Gold Note PH-1000, toca-discos Origin Live Sovereign com braço Origin Live de 12 polegadas, e cápsula ZYX Ultimate Omega G. Cabos de caixa: Dynamique Audio Apex, Virtual Reality Trançado e Oyaide Across 3000 B. Cabos de força: Sunrise Lab Quintessence, Transparent PowerLink MM2 e Kubala-Sosna Realization. Interconexão: Sunrise Lab Quintessence Aniversário (RCA e XLR), Dynamique Apex (XLR), Kubala-Sosna USB Realization, e Sunrise Lab Quintessence Aniversário e AES/EBU Crystal Cable Absolute Dream.
As caixas vieram lacradas ‘zero bala’. Se o amigo leitor, ao ler este teste, gostar da caixa e quiser adquiri-la, torça para ir a que testei, pois é uma caixa que precisa de um longo amaciamento – principalmente o tweeter, e para ele tenho um truque: quando puder deixe o ajuste do tweeter no máximo, mas só no tempo de amaciamento, e depois para as audições volte a 0 dB. Estou falando de um amaciamento de 180 horas, no mínimo. E outra dica para o woofer, se o amigo tiver analógico ouça muito LP e deixe as baixas frequências chacoalharem o woofer sem dó! As primeiras 50 horas serão sofríveis, mas não se preocupe, pois a partir daí começam a aparecer as virtudes da caixa.
Os graves têm uma autoridade e uma presença que fará você coçar a cabeça, de como uma book consegue esse corpo e deslocamento de ar. E o mais legal é que, mesmo em volumes na ‘calada da noite’, o grave se faz presente de maneira incrivelmente precisa.
A região média é muito correta, com excelente corpo tanto no médio-grave como até os 1.7kHz, quando o sinal é entregue ao tweeter.
Os engenheiros da JBL foram muito felizes na transição do médio-alto para o tweeter, pois não se sente sobreposição, mesmo quando ouvimos a menos de 1 metro da caixa. Mas, lembre-se, para se ter esse equilíbrio tonal, o ajuste do tweeter tem que ser zero dB! Nada de deixar no máximo, pois o brilho a mais não se traduz em extensão a mais, e compromete o equilíbrio tonal da caixa.
O tweeter é muito bom, ainda que não reproduza decaimentos super longos, como tweeters mais sofisticados (berílio ou diamante), então não espere a mais alta fidelidade em termos de ambiência e sim uma ideia aproximada dos ambientes em que as gravações foram feitas.
Por outro lado, o ouvinte terá excelente corpo nas altas e a correta velocidade.
Como escrevi no início do teste, discordo dos revisores que disseram que a L82 Classic não reproduz bem todos os gêneros musicais – eu achei exatamente o contrário. O que ela não faz com primor de caixas mais caras e sofisticadas, é mostrar o sumo do sumo da transparência ou do detalhamento. Vou dar alguns exemplos: ouvindo quartetos de cordas, não tenho a micro variação de tensão dos arcos, ou a precisão quase que visual das cordas dedilhadas. Em compensação as texturas, transientes, corpo e timbre são excelentes. Permitindo que o ouvinte não se desconcentre nunca da música.
Outro exemplo: desmembrar o naipe de metais e identificar cada instrumento, o todo sempre irá prevalecer nas L82 Classic, e não as partes ou detalhes. Por sorte, no momento do teste, também chegou a Elac Uni-Fi 2.0 UB5.2 – outra excelente book – com um falante dual-concentric (o tweeter no meio dos médio), que em termos de extensão nas altas e transparência é superior à L82 Classic. Porém é muito mais dependente do tamanho da sala, da eletrônica, do cabeamento e, pelas dimensões, jamais conseguirá reproduzir o corpo harmônico da L82 Classic, e nem esse grau de coerência e uniformidade do todo.
Como sempre escrevo, tudo é uma questão de compromisso. Seja em sistemas mais modestos, intermediários ou top. Não há perfeição total! Quem acredita nessa possibilidade, irá gastar muito e sempre se sentir frustrado.
Peguemos o meu caso: eu não pensaria duas vezes entre a L82 Classic e books que não me possibilitam melhor corpo harmônico, pois ouço muito música clássica e obras complexas, e com enorme variação dinâmica. E aí entramos na maior das virtudes da linha Classic da JBL: gostam de serem testadas em volumes das gravações. O tranco que elas suportam sem distorcer é impressionante! Estou falando em volumes realistas das gravações, não em volumes excessivos e acima dos mixados nas gravações. Nesse aspecto, a L82 Classic tem comportamento de coluna e não book.
Seu soundstage, como disse, irá ser muito dependente da abertura e do ângulo das caixas em relação ao ouvinte, mas seu foco e recorte são muito precisos.
As texturas possuem uma bela paleta de cores, e em uma eletrônica de alto nível todas as intencionalidades serão apresentadas.
Os transientes são excelentes, assim como a macrodinâmica, que é muito acima do tamanho físico da caixa. Já a microdinâmica, dependerá muito da qualidade de captação, pois esse quesito está intrinsecamente relacionado ao grau de transparência. Então, se você é um audiófilo que quer que aquele sininho tenha que soar translúcido e transpassar todo o acontecimento musical, esqueça a L82 Classic. Mas se você não quer perder a concentração pelo sininho que insiste em se sobressair, desviando sua audição do todo, a L82 Classic pode perfeitamente ser sua caixa!
Outra virtude que já disse em vários pontos do teste, é o corpo harmônico, algo inacreditável para uma book com essas dimensões. Tímpanos, trompas, pianos, contrabaixos soam muito próximos de caixas tipo coluna de média para grande proporção. Este quesito da Metodologia foi o que mais me agradou na L82 Classic. Os amantes de rock ficarão impressionados como soam os bumbos nessa book!
Materialização física: aqui novamente essa ‘mágica’ depende muito do grau de transparência, porém sempre lembro a todos: do que adianta uma materialização física de um piano de cauda do tamanho de uma pizza brotinho? Seu cérebro não vai cair nessa, vai?
Então o que a L82 Classic faz é: em gravações impecáveis tecnicamente, ela lhe dá a noção (graças ao seu corpo harmônico) de um piano ali a sua frente. E em gravações medianas, o prazer fica pelo tamanho dos instrumentos (percebe, amigo leitor, como tudo é puro compromisso?).
Musicalmente, a L82 Classic me agradou muito, pois sua assinatura sônica está mais para o lado do quente, do sedutor e de que o ouvinte esqueça de avaliar limitações tanto da caixa, como do sistema ou da gravação. E possui folga suficiente para deixar o ouvinte colocar o volume realista da gravação sem se arrepender e correr para baixar.
CONCLUSÃO
Se você se convenceu que seu upgrade de caixas tem que ser uma book, ainda que você tenha restrições ao tamanho do corpo harmônico, peso dos graves, energia e deslocamento de ar, ouça a LS 82, uma caixa extremamente fácil de tocar, amigável com
amplificadores de apenas 20 Watts como o integrado chinês utilizado no teste, como com os integrados com mais de 100 Watts como o Nagra e o Mark Levinson.
Com uma fonte (seja analógica ou digital de bom nível) cabos com bom equilíbrio tonal e um amplificador com a mesma assinatura sônica da caixa, não tem como errar!
O resultado será sempre a música e não os detalhes!
PONTOS POSITIVOS
Alta compatibilidade com amplificadores, e uma apresentação muito sedutora e correta.
PONTOS NEGATIVOS
Se você prioriza transparência acima de tudo, não é uma caixa para você.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | Caixas bookshelf de 2 vias |
Impedância | 8 Ohms |
Sensibilidade | 88 dB |
Resposta de frequência | 44 Hz a 40 kHz |
Frequência de corte do crossover | 1.7 kHz |
Dimensões L x A x P | 28.1 x 47.3 x 31.5 cm |
Peso | 12.7 kg |
CAIXAS ACÚSTICAS JBL L82 CLASSIC
Equilíbrio Tonal 10,5
Soundstage 10,0
Textura 10,5
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 10,0
Musicalidade 12,5
Total 86,5
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0
Link para o teste completo: