Eu tinha certeza que, no momento em que avaliasse a JBL L100 Classic, seria tomado por um misto de curiosidade e saudosismo, pois eu sou justamente da geração que teve ou conheceu amigos que tiveram em suas salas, nos anos setenta, um par de JBL L100 Century em seus sistemas.
E posso garantir que, entre os mais jovens, era a caixa preferida para ouvirmos os discos que amávamos e nossos pais odiavam.
No entanto, entre os clientes de meu pai (todos com mais de quarenta anos), era a caixa a ser contestada ou, para os mais ‘ortodoxos’, odiada – pois representavam uma ruptura com as caixas hi-end da época, que dominavam o cenário audiófilo: as caixas Klipsch. Os gigantescos armários de canto, o terror das esposas que viviam se incomodando com a poeira acumulada em volta das caixas, e a dificuldade de movimentá-las para se tirar tufos de sujeira e teias de aranha.
Lembro-me de alguns clientes, na tentativa de acalmar suas esposas, deixavam até que um vaso de samambaia ou adereços de louça fossem colocados para quebrar um pouco com aquele enorme ‘móvel’ de canto vazio.
E presenciei algumas cenas cômicas, como quando uma porcelana chinesa despencou do alto da caixa do canal direito, ao anfitrião se empolgar com a abertura de Carmina Burana, de Carl Orff.
E, cada vez que eu ia na casa de um amigo cujo pai amava os Beatles, eu voltava para casa sonhando em convencer meu pai a investir em um par de JBL L100 Century. Tentei até o apoio do meu irmão mais velho para ajudar-me, mas foi em vão! Meu pai tinha sólidas convicções, e nunca foi fã de nenhuma caixa da JBL.
Quando eu lhe perguntava o motivo, ele sempre me fitava profundamente, e calmamente me dizia: “não irei investir em uma caixa que não toque bem os gêneros musicais que aprecio”. E eu sempre respondia, mentalmente: “Invista para fazer seus filhos que amam rock felizes”.
Interessante que, nos anos oitenta, por duas vezes tive a possibilidade de comprar essa caixa e, ao ouvir em meu sistema, tive que concordar com meu pai que ela não havia sido feita para todos os gêneros musicais, e aí desisti da ideia e nunca mais pensei na possibilidade.
E, 50 anos depois, cá estou eu sentado em nossa Sala de Referência olhando para a versão ‘século 21’ desta caixa – cujo modelo original foi o mais vendido de toda a história da JBL!
Se meu pai estivesse vivo, certamente eu o traria para ouvir o que os engenheiros fizeram para tornar este modelo ‘clássico’ uma caixa surpreendentemente atualizada.
Então, eu não irei bater na tecla do ‘vintage revisitado’, pois ao ouvir e testar a L82 Classic (leia teste na edição 281), eu percebi que o que restou dos modelos originais foi apenas o estilo e o design (para servir de atração a um público admirador de um estilo ‘retrô’), mas que em termos de performance nada lembra os modelos originais.
E isso é o mais interessante, pois temos uma versão digna de competir com modelos e marcas atuais e perceber que os engenheiros da JBL fizeram a leitura correta de como precisa soar uma caixa hoje, hi-end. Se a L82 Classic já havia nos surpreendido com sua performance e uma qualidade impressionante para uma book na reprodução do corpo harmônico e dos graves, tinha uma ideia do que esperar da nova L100 Classic.
Mas ela extrapolou todas as minhas expectativas, e se tornou uma das caixas que mais prazer temos em colocar com inúmeros amplificadores, para ver como ela responde a assinaturas sônicas tão diferentes. Imagine que, desde que ela chegou (final de fevereiro), já a ouvimos com todos os powers e integrados que aqui estiveram. E seu grau de compatibilidade foi simplesmente estonteante.
Adorei mostrar sua performance para amigos músicos, audiófilos novos e mais velhos, e ver estampado em seus rostos como soam equilibradas e capazes de uma performance dinâmica de colunas muito maiores e mais caras!
O maior desafio das novas L100 Classic é agradar com seu design anos setenta pessoas que estão acostumados a colunas esbeltas, com acabamento laca de piano, ou gabinete de madeira com camadas e mais camadas de verniz – e olhar para a JBL com seu acabamento despojado e um tamanho desajeitado, que nem podemos chamar de coluna e menos ainda como de book, e esperar que sejam bonitas aos olhos.
Então, o primeiro desafio da L100 Classic é conquistar aqueles em que a primeira impressão será de puro estranhamento.
O segundo desafio é ter em mente que será imprescindível o uso do pedestal diferenciado para que o soundstage tenha a altura
correta, pois se a deixar direto no chão, como muitos a usavam nos anos setenta, toda a imagem sonora será baixa, como se os músicos estivessem tocando sentados no chão (mas que jovem se preocupava com a altura da imagem sonora nos anos setenta?).
E, o terceiro desafio para ela conquistar os resistentes, será ter uma sala que permita que elas respirem e os graves não fiquem embolados.
Mesmo o gabinete sendo semelhante ao modelo original, ele não é idêntico. Para se atingir a performance desejada, os engenheiros recorreram a algumas mudanças na litragem da caixa, reforços internos para matar ressonâncias indesejadas, um novo folheado de Nogueira para as laterais e o fundo, e o painel frontal pintado em preto fosco.
Na nova versão, o tweeter de 1 polegada é de domo de titânio e está acoplado a um guia de ondas rasa, com uma lente acústica à sua volta. O imã de ferrite do tweeter é bastante robusto, com pouco mais de 3 polegadas de diâmetro, para que sua capacidade de absorver e transferir calor seja mais eficiente que os de neodímio. O falante de médio possui cone de celulose revestido de polímero para maior rigidez, de 5,25 polegadas. E o falante de grave de 12 polegadas tem um cone de polpa pura, que é mantido no lugar por uma grande estrutura de alumínio fundido e uma bobina de 3 polegadas. O falante de graves pesa quase 10 quilos!
O crossover utiliza 15 componentes com alguns capacitores eletrolíticos muito grandes, resistores e indutores de núcleo de ar, e um único indutor de núcleo de ferro. Os cortes são em 450Hz e 3,5kHz, em um filtro de segunda ordem, exceto para o tweeter que utiliza um filtro de terceira ordem.
O duto enorme bass reflex está na frente da caixa, ao lado do falante de médio. E acima do duto temos o atenuador de médio e agudo, que vão de -1 a +1 dB (deixamos todo o tempo de teste os atenuadores em 0 dB, sendo que apenas para acelerar o amaciamento usamos os atenuadores em +1 dB).
O gabinete usa um defletor frontal de 1 polegada e os laterais e de fundo de 3/4 de espessura, com um reforço no meio do gabinete em forma de V, para maior rigidez e travamento do gabinete. Todo o gabinete internamente está revestido com amortecimento tipo Dacron.
Lembrando o modelo original, a JBL em vez de telas de tecido usa o famoso Quadrex: uma espuma como tela de proteção, que tem as opções de cores preta, laranja e azul. Sequer tiramos, na montagem, essa espuma da embalagem, pois fizemos o teste na L82 Classic e vimos que não é possível ouvir seriamente com essa tela.
Na parte de trás, no meio do gabinete, temos os terminais de caixa que, na minha opinião, poderiam ser de melhor qualidade, pois quando usamos cabos tipo forquilha, apertar com as mãos é praticamente impossível e estava totalmente fora de cogitação usar um alicate para fazer o devido aperto, pois o alicate iria marcar os bornes. Se eu fosse dono de uma L100 Classic atual, certamente trocaria esses bornes imediatamente.
Esse foi o único ‘pênalti’ em minha opinião!
Para o teste, a Mediagear nos mandou os pedestais adequados, que inclinam a caixa para um melhor ajuste do ponto ideal de audição. Aprovamos integralmente o uso desse pedestal, e acho que será a melhor solução para quem adquirir a JBL.
O par do pedestal sai menos de 4 mil reais! Mas se você tiver habilidades manuais, pode também fazer seu próprio pedestal, lembrando-se apenas que as caixas pesam quase 27 kg e os graves são poderosos, então o material do pedestal deverá ser muito bem pensado e planejado.
As especificações das caixas, segundo o fabricante, são: resposta de frequência de 40Hz a 40kHz (-6 dB), sensibilidade de 90 dB, potência máxima admissível de 200 Watts, impedância de 4 ohms. Altura de 67 cm, largura de 39 cm e profundidade de 37 cm.
Para o teste utilizamos os seguintes integrados: Gold Note PS-1000, Arcam SA30, Krell 300i, Stereo 130 Leak, e Sunrise Lab V8 Anniversary. Powers: Goldmund Telos 2500, Nagra HD AMP e Classic. Cabos de caixa: Dynamique Halo 2 e Apex, Sunrise Lab
Quintessence Anniversary, e Virtual Reality Trançado. Fontes digitais: Mark Levinson No.5101 (leia Teste 1 nesta edição), Nagra Transport CDP, Nagra TUBE DAC, e MSB Reference. Fonte analógica: pré de phono PH-1000 Gold Note, toca-discos Origin Live Sovereign com braço de 12 polegadas Entreprise Mk4, e cápsulas Hana Umami Red e ZYX Ultimate Omega G. Pré de linha: Nagra Classic. Streamer: Innuos ZENmini Mk3.
Como já havíamos passado pelo desespero que foram as primeiras 100 horas de amaciamento das L82 Classic (beiram o inaudível os agudos, caro leitor), fizemos uma primeira impressão de apenas quatro faixas, verificamos o mesmo que na L82, e colocamos a L100 para 100 horas direto sem intervalo no amaciamento. Depois ligamos no Gold Note já em fase final de teste, e verificamos que não era apenas o tweeter que necessitava demais tempo, os médios (que a L82, não tem), também careciam de pelo menos mais 100 horas.
Então, amigo leitor, esteja munido de paciência, que aquele brilho e dureza irão depois de integralmente amaciados dar lugar a uma timbragem extremamente natural e tudo irá se encaixar. Mas, antes de pelo menos as duzentas horas, não haverá como sentar e ouvir por horas essa caixa.
Com 210 horas, finalmente os médios recuaram e se encaixaram perfeitamente entre os graves e o tweeter. Fazendo com que o interesse a cada novo disco fosse se ampliando. Não é a caixa mais transparente e detalhista, mas sua naturalidade e facilidade em
mostrar gravações mais complexas é muito convincente.
Com os atenuadores em 0 dB nunca irão aparecer agressivos, duros ou brilhantes. A região média possui uma folga e presença que nos cativa, e os graves a partir de 230 horas ganham um conforto, corpo, energia e deslocamento de ar que nos anima a buscar gravações que sejam ricas em baixas frequências.
Foi a hora de ouvir todos Marcus Miller, Brian Bromberg, Patricia Barber, e revisitar nossa coleção de LPs de rock progressivo dos anos setenta (comecei pelo álbum ao vivo Genesis Live, uma gravação tecnicamente limitada, mas que tem uma importância emocional em minha formação musical na adolescência, enorme!).
Impressionante como a L100 (permita-me abreviar), conseguiu descongestionar a região média, repleta de compressão, e nos dar um grau de inteligibilidade com precisão rítmica e nos passar um pouco da energia do palco e da plateia naquela noite! Não foi a audição com mais folga que fiz deste disco, mas tinha um apelo em termos de ‘vivacidade’ que deixou claro que essa seria uma das qualidades dessa JBL.
Outra característica: ela gosta de ser levada a tocar alto, e responde com enorme desenvoltura. De forma objetiva, diria que não é uma caixa com enorme extensão nas pontas – mas até onde ela responde, o faz com critério e muita autoridade! Você não vai ver ela desandar, ou engasgar em passagens complexas, pois ela sempre dará um jeito de se ‘enquadrar’ ao desafio imposto, e com isso ela vai nos conquistando e nos levando a propor novos desafios, com outros gêneros musicais.
E, ao contrário do modelo dos anos setenta, ela toca – e bem – qualquer gênero musical proposto. Mas os amantes de rock, blues e pop, esses se sentirão realizados, acreditem. Pois as L100 não se sentem intimidadas, nem mesmo com as gravações mais sofríveis tecnicamente.
Quem tem os primeiros LPs da cantora inglesa Kate Bush, sabe o quanto os engenheiros estragaram suas belas canções. É uma quantidade de compressão injustificável para os arranjos, fazendo com que tudo soe escuro, embolado, com baixa inteligibilidade. Nenhuma caixa ou eletrônica corrige erros tão insanos, mas a JBL L100, como diria meu pai: “come pelas bordas” sem revirar demais o centro, e com isso conseguimos ouvir aquela ‘massa batida no liquidificador’ e curtir o disco.
É como ouvir uma melodia que amamos em um elevador, mas com um pouco mais de qualidade. E quando isso ocorre, nos surpreendemos e nos sentimos gratos por aquele momento inesperado!
O soundstage da L100 é muito bom, mas não espere excelência em termos de foco, recorte e planos (principalmente no quesito altura). Novamente o que temos é um arranjo bem feito, que nos transmite o conceito, em termos de posicionamento, mas nada repleto de precisão como em muitas caixas em que podemos ver com exatidão o recorte em volta do solista.
As texturas são surpreendentes, e talvez sejam uma das maiores proezas das L100. Ouvi três discos do Hendrix, dos dois lados, só para curtir o grau de pressão intencional que Jimi imprimia nos seus solos. A melhor saturação em termos de distorção, que nenhum outro guitarrista atingiu! A quantidade de distorção e pressão no volume imposto aquela parede de amplificadores Marshall, é para nos fazer desistir, em inúmeras caixas hi-end, de sequer ouvir o solo todo.
Mas não na L100. Novamente ela nos mostra a soma do todo, sem buscar detalhar as nuances e com isso nosso foco fica preso ao momento, sem o cérebro querer esmiuçar como aquilo está sendo feito.
Um amigo, ao ouvir a L100, fez a interessante observação: “ouvir música nessa caixa é como estar faminto – não pensamos no que estamos colocando no prato, apenas queremos saciar a fome”! Então, se ela não nos apresenta com precisão total a paleta de cores dos instrumentos, ela nos coloca em contato com a resultante do todo, e como aquelas texturas em conjunto se comportam.
Os transientes são incisivos, precisos e contagiantes! Nada soará letárgico ou sem graça na L100, absolutamente nada. Parece até que está sempre ‘antenada’ 100%.
Para o seu tamanho, sua apresentação de macrodinâmica pode ser um puxão de orelha para muita caixa hi-end caríssima, mas que nunca se sujeita a colocar o ‘pé na lama’. Ela se mostrou tão ousada, que a desafiei a reproduzir a Abertura 1812 de Tchaikovsky, e quem quase morreu de susto com os tiros de canhão fui eu, e não ela. Temi por sua integridade, e cheguei a imaginar o cone de 12 polegadas se espatifando à minha frente. Que nada! Orgulhosamente ela passou pelo teste e ainda pediu bis! (que não dei, claro).
O corpo harmônico dessa caixa deveria ser estudado com afinco. Pois, pelas suas dimensões, não deveria ser tão ousada e determinada! Órgãos de tubo, tímpanos, contrabaixo, piano, harpa, foram reproduzidos com total fidelidade do que se conseguiu na captação, sem tirar e nem por.
Quanto à materialização física do acontecimento musical, pela sua maneira de resolver a menor transparência, o resultado será mais um esboço etéreo do que a apresentação ali na nossa frente. Mas mesmo este esboço é bastante sedutor, pois nos faz novamente nos mantermos ligados ao todo, e não aos detalhes.
Eu não tenho nenhum problema em trocar essa materialização pelo prazer em estar ali em frente a música na sua integridade. Mas sei de leitores que, junto com soundstage, essa materialização é essencial! A esses, certamente a L100 não será sua caixa!
CONCLUSÃO
É preciso lembrar que nunca haverá a realização plena da reprodução eletrônica. Sempre haverá perdas e ganhos, pois nenhum equipamento é perfeito! Então é sempre preciso colocar as questões em suas devidas perspectivas.
Para quem a L100 Classic pode ser a caixa ideal? Para todos que possuem uma sala de mais de 20 metros quadrados, possuem um sistema minimalista (de preferência um excelente integrado) e gosta de ouvir suas músicas de forma convincente com muita energia, deslocamento de ar, peso, precisão rítmica e de tempo, e que consiga resolver de forma ‘palatável’ gravações tecnicamente limitadas.
Ouvintes que não queiram a transparência absoluta e sim a música o mais íntegra possível. Ainda que tenham que abrir mão de certos ‘adornos’ que para outros são fundamentais. Pessoas (como disse meu amigo), famintas por audições que os levem a revisitar sentimentos e pensamentos que lhe são caros!
Se você se enquadra nessa descrição, ouça com muita atenção a JBL L100 Classic (mas por favor tenha absoluta certeza de estarem amaciadas integralmente!). Em um bom integrado e com uma fonte correta, ela pode ser o ‘elo’ entre seu sistema e você!
Pontes muitas vezes nos levam a lugares inusitados. A L100 Classic pode perfeitamente ser essa ponte para inúmeros dos nossos leitores.
PONTOS POSITIVOS
Impetuosidade, autoridade e diversão garantida
PONTOS NEGATIVOS
Esses bornes: por favor JBL, reveja esse item!
ESPECIFICAÇÕES
Impendância | 4 Ohms |
Amplificação recomendada | 25 a 200 W RMS |
Sensibilidade (2.83V/1m) | 90 dB |
Resposta de frequência | 40 Hz – 40 kHz (-6 dB) |
Frequências de crossover | 450 Hz / 2.5 kHz |
Controles | Atenuadores para drivers de médios e de agudos |
Acabamento | Nogueira envernizada legítima |
Dimensões (L x A x P) | 390 x 390 x 372 mm |
Peso | 26.7 kg (cada) |
CAIXAS ACÚSTICAS JBL L100 CLASSIC
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 10,5
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 10,5
Musicalidade 12,0
Total 92,0
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0
Link para o teste completo: