Sempre que os leitores nos consultam à respeito das vantagens e desvantagens de caixas bookshelf, percebo claramente que as maiores resistências são por desinformação ou apresentações mal feitas.
Escrevo há mais de uma década que as caixas bookshelfs evoluíram muito, e podem ser as caixas definitivas para sistemas estéreo em salas de até 16 metros quadrados (e algumas atendem perfeitamente salas até maiores).
As vantagens são muito maiores que as limitações. A começar pela facilidade de posicionamento, pois podem ficar a menos de 2 metros entre elas e ainda assim proporcionar um bom palco sonoro, maior flexibilidade para se achar o ponto ideal para o equilíbrio tonal da caixa na sala.
Possibilidade de ficar muito mais próxima das paredes (tanto laterais como da parede às costas das caixas), as novas gerações são muito mais compatíveis em termos de sensibilidade com amplificadores de menor potência, sem contar o número cada vez maior de caixas book amplificadas, que permitem uma flexibilidade ainda maior, simplificando a quantidade de equipamentos, rack, etc. E quando falamos de performance, o leque de opções é cada vez maior e para todos os bolsos.
Hoje existem ótimas opções a partir de 1000 dólares!
Aqui na revista, nosso leitor já leu diversos testes de caixas book de entrada com excelente custo/performance. E na outra ponta, a de caixas book Estado da Arte, o leque de opções vem crescendo ano a ano!
No entanto percebo que a maior resistência se encontra justamente neste nicho de books Estado da Arte, quando o raciocínio é sempre: “não vale mais a pena com essa grana, comprar uma torre?”. Este é um eterno dilema, que só o consumidor pode resolver, e precisa ouvir as opções em sua sala para se sentir seguro da escolha do investimento.
O que sempre argumento à quem me pergunta, é: qual caixa irá dar menos dor de cabeça? Com a cara metade, com o espaço disponível, com a acústica, com o posicionamento, com os vizinhos, etc.
São inúmeras perguntas que precisam ser respondidas, antes de partir para uma book ou descartar essa opção.
Outra reclamação: Os graves são sempre mais limitados! Ok, é verdade, no entanto eu sempre contra argumento: o que é menos brochante para você? Graves bem definidos com menor corpo e peso, ou graves sobrando e sem definição? Se sua cara-metade não se importar em colocar armadilhas de grave e tratamento acústico para corrigir o problema, você está liberado para escolher uma torre.
E se, ainda assim, o espaço para o posicionamento de uma torre for por demais limitado? E tiver o inconveniente de proporcionar um soundstage medíocre?
Sentiu como o buraco é bem mais embaixo amigo leitor?
Com as cidades cada vez mais apinhadas de gente e espaço para morar cada vez menor, os fabricantes de caixas acústicas se dedicam, e muito, a encontrar soluções que respondam cada vez mais ao anseio de audiófilos e melômanos por caixas book que tenham um grave com mais corpo, peso e energia.
E acredite, essas books já existem, tanto no mercado hi-fi, como no mercado hi-end.
Eu convivi nos últimos 12 anos com books extraordinárias em termos de performance e soluções inteligentes, para os mais criteriosos audiófilos que querem que uma book seja capaz de reproduzir obras sinfônicas com autoridade e beleza. Neste nível de exigência, elas são caras, mas valem o que custam, acreditem!
Nos meus cadernos de anotações, algumas books Estado da Arte ganharam elogios consistentes e eu viveria com qualquer uma delas feliz da vida! Claro que, em ambientes menores do que nossa Sala de Testes (que possui 50 metros quadrados e um pé direito de mais de 4 metros). No entanto, duas books desta nova safra se saíram tão bem nesta sala, que esses dois modelos os teria para apresentar em nossos Cursos de Percepção Auditiva e acabar de vez com este preconceito em relação à caixas de menor tamanho.
Foram elas: a Boenicke W5SE, e a Paradigm Persona B. E, agora, se juntaria à esta dupla de books a Concept 300. Tornando-se um trio de books que merecem ser apreciadas por todos que querem uma book Estado da Arte e possuem uma sala de tamanho reduzido.
Cada uma com sua assinatura sônica muito distinta, mas todas com um grau de acerto e refinamento capaz de convencer os corações mais gelados. Nenhuma dessas três caixas são baratas, todas beiram os 10 mil dólares, e com a nossa moeda valendo um “vintém”, as coisas se complicam ainda mais.
Consigo entrar na sua cabeça, amigo leitor, e ver que você está se perguntando se com quase 10 mil dólares não se compra uma torre, com mais “atributos”. No mercado de seminovos, certamente que sim. Mas volte algumas linhas acima e faça novamente as perguntas que levantei.
Se puderes trabalhar a acústica de sua sala, tiveres liberdade total de escolher o sistema sem a intervenção feminina, realmente nenhuma book será o ideal. Mas, a todos os leitores que se identificaram com um ou mais itens do questionário acima, este teste será de enorme interesse.
A Q Acoustic é um dos fabricantes que vem conquistando enorme notoriedade nos últimos 5 anos, com uma série de caixas que atendem a um enorme leque de consumidores.
Derivada da premiadíssima Concept 500, uma imponente torre (leia teste na edição 249), a book Concept 300 utiliza a mesma tecnologia e falantes do modelo topo de linha.
O que chama a atenção de cara, na Concept 300, é seu belo acabamento e o tamanho do seu gabinete. Bastante profundo para uma book, é um projeto de duas vias com um tweeter de tecido de 1,1 polegada (28 mm) que utiliza microfibras feitas de fios superfinos, e um woofer de 6,5 polegadas (165 mm) com cone de papel impregnado e revestido, com borda de borracha.
O tweeter é montado em um defletor com uma junta de borracha para isolá-lo das vibrações do woofer, com um perfil de guia de ondas raso para uma melhor dispersão lateral. Ambos os falantes são fixados por trás, com parafusos de retenção tensionados por mola.
O duto reflex de 7 polegadas de profundidade e 2 polegadas de diâmetro, fica no painel traseiro da caixa. Caso existam muitos problemas com os graves, já que a Concept 300 faz “milagres” nesta faixa de frequência, o fabricante disponibiliza espumas para serem colocadas no duto.
O crossover, de terceira ordem, usa componentes premium, incluindo capacitores de polipropileno.
A conexão é feita por meio de dois pares de terminais, para bicablagem ou biamplificação.
Como na Concept 500, três soquetes de 4 mm acomodam um jumper para permitir que o nível do tweeter seja aumentado ou diminuído em 0,5 dB (no teste todo deixamos em flat).
O gabinete é uma obra prima para os olhos e o tato! Bordas laterais arredondadas e uma combinação de dois folheados de madeira diferentes com acabamento em laca de alto brilho, que combinam com qualquer ambiente, do retrô ao moderno e descolado. As paredes do gabinete são construídas com três camadas de MDF, cada uma separada com um gel que absorve e dissipa quaisquer vibrações de alta frequência (segundo o fabricante). Já as frequências mais baixas são tratadas de maneira muito inteligente por suportes internos estrategicamente colocados.
A Q Acoustic desenvolveu um sistema de suspensão de isolamento da base que se acopla ao gabinete através da fixação no pedestal, isolando o gabinete por molas. Adianto que, além de ser muito interessante, a qualidade e definição do equilíbrio tonal são outras, em relação aos pedestais que utilizamos.
O pedestal é impressionante em termos de design e eficiência. Trata-se de um tripé que lembra o design Bauhaus em termos de desafio e concepção. Para que a caixa se estabilize neste tripé, cada vareta é presa a um cabo de aço, rígido. O fabricante batizou este suporte de Tensegrity, com o objetivo de criar um filtro mecânico passa-baixa que isola o base do pedestal e o gabinete do alto falante, como se as caixas estivessem suspensas por fios invisíveis.
Foi tão impactante o resultado, que minha vontade foi testar com outras books para ver se o resultado seria tão satisfatório como com as Concept 300. O problema é que a base deste pedestal precisa ser parafusada na base separada por molas do gabinete da caixa. Como nenhuma outra book possui este recurso ou foi desenvolvida para trabalhar assim, não tive como testar.
O que importa é que os pedestais são obrigatórios, então essa despesa adicional precisa ser colocada no orçamento (lá fora o par custa menos de 1.000 libras).
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Integrados: Hegel H390 (leia teste na próxima edição), pré e power Nagra Classic. Fontes digitais: transporte dCS Scarlatti e TUBE DAC da Nagra. Streamer: Innuos Zen. Fonte analógica: toca-discos Acoustic Signature Storm e toca-discos Timeless (leia teste na próxima edição). Braços: SME Series V e Origin Live Encounter MK3C Cápsulas: Benz LP-S, Soundsmith Hyperion 2, e Hana ML (leia Teste 3 nesta edição). Cabos de caixa: Dynamique Audio Apex e Quintessence da Sunrise Lab.
A caixa chegou direto da alfândega para nossa sala de testes. Como já tínhamos a experiência de queima da Concept 500, sabia que o procedimento era fazer uma breve audição, as anotações iniciais, e deixar em queima por 100 horas. Se você comprar essa maravilhosa book e chamar os amigos para uma audição de estreia, prepare-se para levar uma “saraivada” de críticas. Pois falta tudo, literalmente.
E se você resistir a mostrar seu brinquedinho novo, mas for ansioso ao extremo, tome muita Maracujina, faça caminhadas e tome banhos quentes!
Espere, e tenha fé, rs! Pois quando ela desabrochar, o amigo terá uma ideia exata do nível de performance que essas book atingirão. Não será com 100 horas que ela irá mostrar a que veio. Mas, ao menos a partir daí, já será possível sentar e acompanhar sua evolução sem roer as unhas ou saltar do décimo andar, ok?
Também esqueça querer ajustar a posição com 100 horas. Espere dar 200 horas e tudo irá se aprumar. Dizem que depois da tempestade vem sempre a bonança. Neste caso, é um pouco diferente: depois das 200 horas vem a alegria de ter acertado na mosca!
O que de cara chama a atenção é a materialização física do acontecimento musical, tudo em 3D! Os planos, as alturas, largura e profundidade, estão entre os melhores exemplos que já escutei em books. Aliás, este é um dos maiores benefícios que as books oferecem. Mesmo com distâncias entre elas limitada, a organização entre as caixas, foco, recorte e planos são extremamente prazerosos e convincentes.
Assim como as minhas duas books preferidas, a Concept 300 tem um palco sonoro de nos fazer balançar a cabeça (como um gabinete deste porte, consegue esse milagre?). Muito correto e coerente, você “vê” o tamanho do contrabaixo, em relação a um cello, em relação a uma viola, etc.
O equilíbrio tonal está mais para a W5SE do que a Persona B. E gosto desse equilíbrio, pois em gravações com excesso de brilho ou equalização nas altas, ela é bastante condescendente – como a W5SE (o que a Persona B, não tolera).
Os agudos possuem muito boa extensão e decaimento suave, permitindo sem esforço algum observar as ambiências das salas de gravação.
Outro dia um leitor me questionou para o que serve a ambiência? Disse em tom jocoso: “para mostrar as diferenças entre gravações em que os músicos tocaram todos dentro de um elevador, das onde os músicos tiveram seu espaço físico delimitado e respeitado”. Agora, falando sério, sem a ambiência jamais seu cérebro poderá ser enganado. Afinal, nosso senso de corpo dentro de espaço é muito forte para sermos enganados com falsos reverbs digitais, tão em uso a partir das gravações dos anos 80! Este é um dos efeitos mais observados, quando ouvimos gravações da época de ouro do analógico, feitas no final dos anos 50 até meados dos anos 70. Em salas de gravação de verdade, em que os instrumentos “respiravam”.
A região média da Concept soa muito natural, com o “tênue” equilíbrio entre transparência e calor. Os instrumentos acústicos e vozes possuem aquela “paleta” de naturalidade que tantos buscamos nos sistemas. E os graves descem muito bem até os 48 hz, possibilitando ouvir qualquer gênero musical sem a sensação de falta de peso ou corpo. Ouvimos de tudo: de órgão de tubo, tuba, piano solo, bateria solo, instrumentos de percussão japoneses – e a Concept 300 reproduz graves com enorme autoridade.
As texturas são maravilhosas, tanto em termos de refinamento como de intencionalidade. Escutei diversos duos de piano, e em todas as gravações foi possível perceber a diferença de digitação de cada pianista, seu grau de virtuosidade e seus “trejeitos”. Fiquei muito feliz de ouvir em uma book as diferenças de digitação e técnica das irmãs Lebeque, que só costumo escutar em nossas caixas de referência muito (e bota muito nisso) mais caras! Quando temos um sistema que permite este grau de cumplicidade na reprodução de texturas, toda a sua concepção deste quesito muda para sempre!
Os transientes foram impressionantes, uma precisão de tempo e ritmo, capazes de nos fazer querer sair batendo os pés ou aos mais animados dançar pela sala.
E a dinâmica é um dos outros pontos alto desta book. Sua segurança em resolver passagens com rápido crescendo é impressionante. Ela é muito mais que segura, diria que chega a ser “destemida”, pois muitas vezes julguei que iria jogar a toalha e suportou bravamente. Claro que neste quesito, a limitação física dos falantes é um enorme empecilho. Porém com o volume correto, ela não endurece ou clipa!
CONCLUSÃO
Se você possui a difícil equação de ter uma eletrônica Estado da Arte e um espaço físico limitado para uma caixa torre, eu gostaria que você escutasse essa Concept 300 em sua sala com o seu setup.
Não esqueça de usá-la com o seu pedestal: isso fará uma enorme diferença em sua performance final (acho que a caixa só deveria ser vendida com o pedestal).
Elas não são muito exigentes com a distância entre elas e, nem tão pouco com as paredes. O que ela precisa é ser colocada perfeitamente posicionada no famoso triângulo equilátero entre elas e o ouvinte. Com este cuidado, a qualidade do soundstage estará garantida e você terá uma das apresentações mais 3D possíveis com caixas hi-end.
Quanto à questão do peso e corpo dos graves, elas são bem fáceis de responder e se adequar a qualquer espaço. Se tiveres um espaço mínimo, para brincar com a posição dela em relação às paredes, faça! Você irá se surpreender como seu equilíbrio tonal é consistente!
E, por fim, bons cabos de caixa e uma eletrônica à altura, e o resultado pode ser tão impressionante que você irá se perguntar a razão de nunca ter pensado em uma book como a solução final para o seu sistema.
Uma book Estado da Arte no patamar superior!
PONTOS POSITIVOS
Uma book moderna e compatível com sistemas Estado da Arte.
PONTOS NEGATIVOS
Preço.
ESPECIFICAÇÕES
Stands | Incluídos |
Bi-cablável | Sim |
Sensibilidade | 84 dB |
Impedância | 6 Ohms |
Dimensões (L x A x P) | • 22 x 35,5 x 40 cm (caixas) • 49 x 69 x 43 cm (pedestal) |
Peso | • 14,5 kg (caixas) • 3,9 kg (pedestal) |
CAIXA Q ACOUSTICS CONCEPT 300
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 11,5
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 93,5
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0
Link para o teste completo: