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CAIXA ELAC DEBUT REFERENCE DFR52 – Edição 274

Acho que preparei muito bem o terreno no teste da bookshelf Elac Debut Reference DBR62 (leia o teste na edição 272), quando disse que em breve testaríamos a torre dessa série. Pois o que recebemos de e-mail nos perguntando em que edição o teste sairia – o que nos mostrou a quantidade de leitores que ainda desejam uma solução e caixa torre para os seus sistemas, boa e barata!

Quando eu escrevo que o projetista Andrew Jones não precisa provar mais nada ao mercado hi-end, muitos acham que estou extrapolando e colocando minha visão ‘pessoal’ acima da profissional. Ok, é público e notório minha admiração por este projetista, mas esta admiração não surgiu ‘do nada’, ela foi construída por décadas ao ver seus projetos e como eles soam em diferentes esferas (do produto consumer ao hi-end superlativo).

Enquanto ele deixava o universo audiófilo de queixo caído com suas caixas TAD (a divisão hi-end da Pioneer), muitos achavam que por aquela quantia de ‘verdinhas’ ele tinha obrigação de mostrar e aplicar todo o seu conhecimento! Mas quando ele topou o desafio dos japoneses em desenvolver caixas para o mercado consumer da Pioneer, e com tamanho desempenho, muitos duvidaram de que poderia ser tão bom e custar tão pouco! Nunca recebi tantas críticas, como sobre o teste da coluna Pioneer SP-FS52 by Andrew Jones, publicado na edição 231. Interessante que muitos desses críticos foram os que durante anos nos chamaram de ’elitistas’, e de só apresentar produtos caros e inacessíveis à maioria dos nossos leitores.

Aí quando finalmente apresentamos uma modesta coluna de menos de 2 mil reais, Estado da Arte, esses mesmos críticos entupiram nossa caixa de e-mail dizendo não ser possível algo tão ‘simplório’ e barato ser um Estado da Arte!

Vai entender a cabeça do ser humano!

O que sei é que dezenas de leitores compraram e vivem felizes com sua caixa torre Estado da Arte, boa e barata! E para nós, é isso que realmente importa.

Mas voltando ao Andrew Jones, depois de cumprido este desafio e encerrado seu ciclo na Pioneer, ele topou um novo desafio: desenvolver para a Elac uma nova linha de produtos que se remodelasse toda a sua linha de entrada e fosse até a zona intermediária de preços (onde se encontra o nicho mais disputado do mercado hi-end).

E de cara mostrou ao segmento ao que veio, ao apresentar a linha Debut com produtos que começam na faixa de 200 até
500 dólares! Os prêmios vieram de todos os continentes e as principais revistas especializadas se renderam à incrível relação custo/
performance desta linha. Com o sucesso quase instantâneo, Jones se propôs um novo desafio: desenvolver em cima da plataforma Debut a série Reference, e subir de patamar em termos de performance, sem dobrar os custos!

Como escrevi no teste da bookshelf, em julho também apresentaremos o teste bookshelf Debut 2.0 B6.2, e aí o leitor terá a oportunidade de ver as diferenças entre ambas as books. E tirar suas próprias conclusões, se precisa de uma Debut Reference para o seu sistema, ou uma Debut 2.0 B6.2 lhe atende amplamente.

As mudanças foram visuais e pontuais, com avanços acústicos no reforço do gabinete, novos cabos internos e no crossover e um acabamento mais refinado.

Sendo uma caixa de três vias, a DFR52 responde de 42 Hz a 35 kHz, possui uma impedância nominal de 6 Ohms, sensibilidade
de 87 dB, corte em 90 Hz e 2.200 Hz, potência admissível de 140 Watts, um tweeter de cúpula de tecido, um falante de médio de 5.25 polegadas de cone de aramida, e dois woofers também de 5.25 polegadas com o mesmo cone do falante de médio.

O gabinete frontal tem as opções de branco ou preto, com acabamento em nogueira e toda a construção do gabinete em MDF. O novo guia de ondas do tweeter possui uma grade mais aberta para melhorar a dispersão das altas frequências, as braçadeiras internas do gabinete agora unem todos os quatro lados, diminuindo significativamente as vibrações internas do gabinete e toda e qualquer coloração. O novo woofer de chassi fundido oferece (segundo o fabricante), maior rigidez para fortalecer o defletor frontal e minimizar as ressonâncias do chassi.

E o outro grande diferencial, além dos dois pórticos bass-reflex traseiros, é o novo slot de abertura dupla, com o intuito de aumentar a saída de graves, para aumentar tanto a dinâmica como aprimorar as baixas frequências.

Cada caixa pesa quase 17 kg. Com um design bastante slim, não é uma torre invasiva ou que terá grande ’resistência’ feminina em uma sala de visitas. Sugiro que o leitor leia meu teste da book, para entender o conceito do Andrew Jones para essa nova série e o quanto ele foi feliz em oferecer ao audiófilo que necessite (ou deseje) uma resposta mais estendida nas baixas frequências.

A DFR52 se tornou uma das minhas torres prediletas, por dois motivos: seu alto grau de performance e sua excelente compatibilidade com todos os powers e integrados que utilizamos no teste. Ela casou divinamente bem com o QUAD Artera Solus e com o
Cambridge CXA81, integrados mais compatíveis com sua faixa de preço, e com o set de cabos da Virtual Fidelity.

Como também não fez feio quando foi ligado no Sistema de Referência da AVMAG.

Não se enganem com sua média sensibilidade (87 dB), pois ela é uma verdadeira ‘pêra doce’ para qualquer amplificador. Sua sonoridade é aberta, graciosa, refinada e de uma naturalidade cativante!

Seu tempo de amaciamento foi quase o dobro da irmã menor (total de 320 horas), mas depois de amaciada, a DFR52 é capaz de arroubos difíceis de encontrar em sua faixa de preço! Seus agudos são sedosos, limpos, com ótimo decaimento, e muito corretos! Sua região média não trafega pela estrada do hipertransparente ou do analítico, preferindo sempre uma apresentação mais ‘homogênea’ e refinada – com isso, mesmo as gravações mais tecnicamente limitadas se tornam audíveis (quando se mantém o volume da gravação dentro do limite correto).

E os graves serão uma enorme surpresa para todos que julgam ser preciso investir o dobro para se obter graves encorpados, com velocidade e precisão. Em gravações de órgão de tubo, a sensação é que a Elac desce um pouco mais que os 42 Hz especificados.
É possível ouvir obras complexas e com enorme variação dinâmica, como os Concertos para Percussão e Orquestra de Bartók, ou os últimos dois movimentos da Sinfonia Fantástica de Berlioz, sem aquela sensação de frontalidade nos crescendos ou endurecimento do sinal.

O som possui uma fluidez de caixas muito mais caras e maiores, e mesmo em nossa sala de 50 metros quadrados, ela se saiu muito bem em termos de energia e pressão sonora nos graves. É, no entanto, uma caixa que merece uma eletrônica à altura e, principalmente, cabos compatíveis com seu grau de refinamento.

Seu soundstage dependerá muito da capacidade de posicionamento delas na sala. Será preciso, para o efeito de profundidade da imagem sonora, pelo menos 1 metro das paredes às suas costas e, no mínimo, 0,80 cm das paredes laterais.

Ela não precisa de um toe-in acentuado, voltado para o ponto de escuta, mas também não se sente à vontade trabalhando simetricamente paralela às paredes laterais.

Impressionou, depois de devidamente posicionada em nossa sala, sua profundidade, altura e largura nas obras sinfônicas, com excelente foco, recorte e apresentação de planos.

Os quartetos de cordas, assim como os instrumentos solistas, possuem aquela ’mágica’ do silêncio em volta de cada instrumento, nos dando um panorama visual perfeito do espaço físico de cada músico.

Suas texturas são outro dos seus inúmeros pontos altos, pois conseguem nos mostrar desde a qualidade dos instrumentos, captação e mixagem, mas sobretudo, e de maneira refinada, as intencionalidades.

Nos nossos discos produzidos pela CAVI, guardei alguns takes que não foram aproveitados na mixagem final, gravações que para os leigos passariam de boa como as que foram escolhidas, mas que por ‘n’ motivos não agradaram aos músicos ou a mim. E gosto muitas vezes de escutar esses takes justamente para ’sentir’ o que ocorreu de ’vacilada’, ou de erro mesmo. Essas gravações, quando comparadas com as boas, em termos de texturas, nos são extremamente úteis, pois é possível perceber o grau de foco, leveza, segurança, do músico naquele momento. Isso é o que chamamos de ‘intencionalidade’ – parece tão subjetivo sem essa explicação, mas tão simples de se compreender quando o sistema é capaz de nos mostrar o grau das intencionalidades, tanto da técnica na execução da obra, como o de interpretação do músico.

Estamos acostumados a ouvir este grau de intencionalidade em caixas mais caras que essa Elac, então você pode entender nossa surpresa ao constatar que as caixas de menos de 15 mil reais já atingem esse grau de refinamento. Trata-se de uma excelente notícia, meu amigo, pois se as caixas já se encontram neste nível, toda a ‘cadeia eletrônica’ também terá que andar! Principalmente o tão ‘glorificado’ streamer (mas isso abordo de maneira mais profunda no teste 1 desta edição).

Em caixas com cones menores e bem projetados, os transientes corretos deixaram de ser um problema há décadas! Mas não basta serem apenas corretos nos sistemas Estado da Arte, pois estes precisam ser também precisos! E uma precisão no grau que encontramos nesta Elac, está meio que ‘fora da curva’. Pois quando falamos em precisão, estamos falando em tempo e andamento corretos. Tão corretos que fazem com que o ritmo nos contagie e a música fique mais ‘graciosa’ e rica.

Interessante que muitos audiófilos, em começo de trajetória, ficam tão presos ao que precisam ouvir em determinadas passagens de suas músicas preferidas, que esquecem que o cérebro pode muito bem fazer isso com maior correção e segurança. Basta entender o que se procura e deixar o cérebro codificar e reagir.

Transientes é um quesito que não tem meio termo. Ou são precisos, ou comprometem todo o ritmo e encantamento. Para este quesito, o número de instrumentos é enorme para a sua avaliação, sendo os mais óbvios: instrumentos de percussão, piano, violão, etc.

Mas, se quisermos ver se o nosso cérebro pode nos guiar, eu sugiro música afro-cubana. Se os transientes forem pobres ou, como eu digo, letárgicos, a música irá se arrastar, como se os músicos estivessem com fome e insolação. Ou, pior, estivessem tocando ‘burocraticamente’!

Não ria, amigo leitor – quando eu mostro, nos Cursos de Percepção Auditiva, exemplos de sistemas ou componentes do sistema ruins de transientes, a sala quase vem abaixo. Pois é integralmente audível, que algo no tempo e no ritmo estão desencontrados.

A Elac não sofre dessa ‘letargia’ – pelo contrário, sua precisão é espantosa! Tenho um CD do Chick Corea Elektric Band, Eye Of The Beholder, em que o baterista Dave Weckl atrasa sutilmente as entradas em várias faixas, dando um efeito auditivo muito interessante, já que ele o faz intencionalmente – enquanto que em suas entradas de solo, a precisão é de um relógio suíço. Então, este é um disco ótimo para observarmos como ouvimos essas diferenças. E quando algo está ‘letárgico’ ou em câmera lenta (como meu pai se referia a este fenômeno), instantaneamente nosso cérebro mostra. Pois não tem nada mais broxante que um andamento ‘fora do compasso’ em uma música que o ritmo é o mais importante.

Então, amigo leitor iniciante, entenda os conceitos da nossa Metodologia, escolha seus exemplos que facilitarão ouvir as diferenças, mas depois de entendido o que se tem que observar, relaxe e deixe seu cérebro agir (afinal ele tem milhões de anos nas costas, desde que nossos ancestrais saíram para colher e caçar, e precisavam estar atentos a todos os ruídos da mata, para não serem pegos de surpresa).

Por isso que insistimos tanto que nossos leitores tenham o hábito de ouvir música ao vivo não amplificada, para lhe dar referências seguras e seu cérebro poder guardar em sua memória de longo prazo essas referências.

Outra grande qualidade desta Elac é sua apresentação do corpo harmônico. Principalmente com fonte analógica. Superou em todos os sentidos nossa expectativa, pois visualmente não dá para acreditar que uma caixa tão slim, possua essa capacidade de ter uma apresentação tão próxima do real. Para fechar a nota desse quesito, eu nem usei um LP, fechei a nota ouvindo Passarim em Piano Solo, do André Mehmari, no nosso disco Genuinamente Brasileiro Vol. 2. Gosto desta faixa por dois motivos: o piano estava colocado bem no meio do palco do Teatro Alfa, deixando-o respirar e com um posicionamento dos dois microfones que captou com enorme fidelidade o tamanho do piano! Ele realmente é grandioso, afinal é um Steinway D, com uma sonoridade linda! Mas só temos este corpo em nossa sala com caixas de muito maior porte e muito mais caras!

A presença do acontecimento musical em nossa sala só ocorreu quando a Elac foi ligada ao nosso Sistema de Referência. Quando tivemos o amplificador V8 SS da Sunrise Lab por alguns dias, a Elac havia acabado de chegar, então não foi possível ouvir este quesito neste conjunto, mas também foi muito contundente!

Novos leitores = muitas dúvidas. O que mais têm nos pedido é o esclarecimento de intencionalidade, corpo harmônico e organicidade.
Pois bem, acho que falei o suficiente sobre intencionalidade e corpo.

A organicidade é de vital importância, pois sem ela nosso cérebro não pode ser levado a acreditar que não estamos ouvindo reprodução eletrônica. Então, se o produto testado não consegue este ‘truque’, ele não pode ser considerado um hi-end Estado da Arte. É obvio que, quanto mais subimos os degraus do Estado da Arte, mais ‘enganamos’ nosso cérebro.

O que a Elac conseguiu ligada ao nosso Sistema de Referência é algo digno de nota. O problema é que ninguém vai comprar esta Elac e ligar no nosso Sistema de Referência.

Então, do que adianta essa observação? Adianta no sentido de fechar a nota neste quesito e principalmente para ‘lembrar’ o comprador desta caixa que ele terá em mãos um produto que também se beneficiará nos futuros upgrades que serão feitos na eletrônica! Pois pense o custo a ser desembolsado cada vez que subimos de patamar, se precisarmos mexer em tudo! Ficaria inviável totalmente! Então, ouvirmos um produto com enorme potencial em nosso Sistema de Referência serve para avaliarmos todo o seu potencial!
Então quer dizer que não terei a materialização física do acontecimento musical em minha sala com essas caixas? Não se sua eletrônica estiver abaixo de 88 pontos! E sim se estiver acima de 89. Entendeu como funciona? Mas, para isso, a sala, a elétrica e todo o sistema precisa estar coerente, sem nenhum elo fraco.

CONCLUSÃO

Não pensem que nós só vibramos quando testamos os superlativos, totalmente inacessíveis à esmagadora dos mortais. Eu também vibro, e muito, quando temos a oportunidade de testar produtos que podem ser o produto definitivo de muitos de nossos leitores!

A linha Elac Debut Reference irá fazer o sonho de centenas de nossos leitores que estavam há anos esperando uma caixa torre que estivesse dentro de seu orçamento, e que fosse compatível com sua eletrônica já bem ajustada e Estado da Arte!

Se você fez toda a ‘lição de casa’ com: acústica tratada, elétrica dedicada, e setup ‘azeitado’ e sinérgico, e deseja a caixa compatível com este sistema, escute a DFR52. Se sua sala tem pelo menos 12 metros quadrados, ela pode lhe encantar, como encantou a nós!
Uma caixa que certamente estará entre as caixas recomendadas com o Selo do Editor na edição das Melhores do Ano!


PONTOS POSITIVOS

Altíssima relação custo / performance

PONTOS NEGATIVOS

O terminal de caixa poderia ser mais bem espaçado para se usar forquilha.


ESPECIFICAÇÕES
Tipo3 vias Bass Reflex
Resposta de frequência42 Hz – 35.000 Hz
Impedância nominal6 Ohms
Sensibilidade87db @ 2,83v / 1m
Frequências de corte90 Hz / 2.200 Hz
Potência de entrada140 Watts
Tweeter1” domo de tecido
Midrange / Woofers5,25” cone de fibra de aramida
GabineteMDF CARB2
Dutos3
AcabamentosDefletor branco, gabinete de carvalho ou defletor preto, gabinete de nogueira
Dimensões (L x A x P)18.5 x 102 x 24 cm
Peso17 kg cada

CAIXA ELAC DEBUT REFERENCE DFR52

Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 11,0
Textura 12,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 11,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 12,0
Total 89,0

VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0

Link para o teste completo: