Sou um grande admirador do projetista Andrew Jones. Acompanho seu trabalho com enorme interesse desde quando ouvi pela primeira vez as caixas da divisão hi-end da Pioneer, a TAD. E foi uma grata surpresa quando ele topou o desafio de construir caixas excelentes para a própria Pioneer, e eu tive a oportunidade de constatar o excelente trabalho realizado (leia teste da coluna Pioneer SP-FS52 na edição 231 de julho de 2017). Foi a caixa mais barata por nós já testada a ganhar o selo Estado da Arte, e muitos leitores estão satisfeitíssimos com sua performance.
Alguns leitores não se conformam que ela possa ser tão boa e custar o que custa!
Andrew Jones deixou a Pioneer no final de 2015, e foi contratado para dirigir a Elac America, com carta branca para o desenvolvimento de caixas baratas e com a melhor performance possível. Já na sua estreia, ele mostrou ao mundo a série Debut, e ganhou inúmeros prêmios internacionais e provou que o desenvolvimento de caixas de baixo custo seria sua prioridade também na Elac.
Gentilmente, a Mediagear nos disponibilizou a Debut B6 (que está em teste que será apresentado na edição de maio), a book DBR62 e a coluna DBR52 (teste na edição de junho próximo). Assim podemos dar a vocês leitores uma ideia exata das diferenças entre a Debut e a Debut Reference.
Muitas publicações questionam se a série Reference vale custar o dobro da série Debut, e ao mesmo tempo ser tão próxima em termos de valores da linha Uni-Fi. Se o leitor tiver paciência, chegaremos lá, pois também já estão previstos para o segundo semestre testes da série Uni-Fi.
Mas, no momento, acho que todos que buscam uma book definitiva para salas de até 12 metros quadrados, com valor inferior a 8 mil reais, coloquem em seu “radar”, pois o que vou descrever para vocês é que estamos falando de uma book que é realmente um ponto “fora da curva”!
Com seu acabamento em madeira nogueira, ela consegue ser elegante sem nenhum tipo de ostentação. A nova grelha de metal de proteção do tweeter lhe dá um ar de modernidade clássica. O tweeter de cúpula de tecido de 25 mm tem um novo guia de ondas para melhorar tanto a dispersão horizontal quanto vertical dos agudos. Mas a grande novidade é a nova unidade de médio-grave, com seu chassi de alumínio fundido e seu cone de 16,5 cm de fibra aramida (também utilizado na série Debut).
O gabinete é todo reforçado para eliminar vibrações internas e o acabamento tem duas opções de cores: um defletor frontal branco com o gabinete revestido de carvalho, ou o defletor preto com o acabamento de nogueira (o que recebemos para teste).
O fabricante informa que a DBR62 responde de 44 Hz a 35 kHz, possui uma impedância de 6 ohms, sensibilidade de 86 dB, é bass-
reflex, tem dimensões de 36 cm de altura, 21 cm de largura e 27 cm de profundidade, e pesa 8,2 kg cada.
A DBR62 não permite bi-amplificação e seu crossover é de segunda ordem.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos. Integrados: Cambridge Audio CXA81, Sunrise Lab V8 SS, e Nagra Classic. Cabos de caixa: Virtual Reality Thunder trançado e sólido, e Sunrise Lab Quintessence. Fontes analógicas: toca-discos Timeless Ceres com braço Enterprise da Origin Live de 12 polegadas, e toca-discos Thorens TD 148 com cápsula Hana HL. Prés de phono: Boulder 508, PS Audio Stellar, e Luxman EQ-500 (leia Teste 1 nesta edição). Fonte digital: transporte Nagra CDT, e DAC Nagra TUBE DAC. Cabos de interconexão: Virtual Reality, Dynamique Apex, e Sunrise Lab Quintessence. Cabos de força: Transparent Audio Reference G5 e PowerLink MM2.
Ainda que eu leia inúmeros reviews dos produtos que nos chegam para teste, os faço apenas depois de fechadas nossas observações, o que não impede muitas vezes de nos surpreendermos com conclusões às vezes muito distintas. Sempre acho que as diferenças podem ser muito mais referentes à sinergia do equipamento utilizado nos testes, salas e, muitas vezes, os discos de referência do articulista.
Com o Tidal, consigo ouvir todos os discos citados em testes e costumo observar atentamente em nosso sistema de referência os detalhes que chamam a atenção para o articulista ter escolhido aquele disco e aquela faixa. Confesso que tenho me deparado com muitas escolhas que eu pessoalmente não utilizaria, pois elas além de “turbinadas”, são recheadas de samplers e não usam instrumentos reais. O que para mim seriam “armadilhas” na análise de qualquer produto. Mas, critérios são muito pessoais e subjetivos, e quando observo que essas gravações equalizadas e turbinadas levaram o articulista a uma conclusão diametralmente oposta à que cheguei, consigo entender a razão desta disparidade.
Vou dar um exemplo específico. No teste desta caixa, um revisor disse que ela só era boa para quem escuta jazz e folk. Pois para pop e música eletrônica, ela careceria de autoridade. Aí fui escutar os discos utilizados para esta conclusão. E no sistema e na sala do revisor, e certamente com as músicas escolhidas, acho que nenhuma book de menos de 8 mil reais toque estes exemplos com “autoridade”. Arriscaria mesmo dizer que book alguma irá tocar essas faixas com a “autoridade” que o revisor deseja.
Agora, com instrumentos reais, ainda que turbinados ou com compressão ou equalização, mas bem captados e com músicos competentes, garanto que esta Debut Reference toca qualquer gênero musical, e bem!
E com gravações com um nível técnico de qualidade decente, sua performance é divina!
Ouvi Ben Harper, King Crimson, Metallica, Prince, Genesis, Living Color, e não houve nenhum resquício de falta de autoridade em nenhum momento. E com um detalhe importante: uma folga e um senso de organização e distribuição de energia entre as caixas, impressionantes. Folga que só encontrei em books muito mais caras, como a Paradigm Persona B, a Dynaudio C1, a Boenicke W5SE, e a Q-Acoustics Concept 300 – todas caixas no mínimo três vezes mais caras que a Elac.
A DBR 62 tem um refinamento difícil de igualar, e este “equilíbrio” se traduz em conforto auditivo pleno. É o tipo da caixa que você pode passar horas e mais horas ouvindo seus discos e não sentirá fadiga auditiva nunca (desde que o seu setup e sala não sejam tortos).
Mas ela precisa de alguns cuidados de posicionamento, tanto em relação às paredes, como em relação ao pedestal e sua altura correta. Nós utilizamos nossa referência, o pedestal da Magis, que nunca nos deixou na mão com book alguma. A DBR62 precisa que esteja corretamente ajustada para o ouvido estar na altura certa entre o tweeter e o falante de graves/médios. Pois se não estiver na altura correta, o equilíbrio tonal pode ser comprometido. O ideal é ouvir vozes femininas para este ajuste, pois quando o posicionamento está correto, a voz feminina ganha aquele corpo de sustentação no médio-grave, tão importante para perceber as inflexões e técnicas vocais (minha cantora preferida para este ajuste ainda é a Ella Fitzgerald ou a Cassandra Wilson, mas cada um tem a sua, é claro).
Definida a altura, busquei o melhor posicionamento na sala, que foi 2,80m entre elas (do centro de um tweeter ao outro), e 1,20 m da parede às costas. Ligeiramente apontadas para o centro do ponto ideal de audição, cerca de 25 graus.
Quando estava acabando o teste, chegou o integrado da Leben de apenas 15 Watts por canal (leia Teste 2 nesta edição). Achei que a sensibilidade da Elac seria um problema intransponível para o Leben, mas para minha grata surpresa, para ouvir pequenos grupos de vozes e instrumentos acústicos, foi um resultado excepcional, principalmente para a análise do quesito Textura em ambos os produtos.
Mas a Elac precisa de mais “músculo” para os outros gêneros musicais. Então utilizamos este belo acervo de integrados (Nagra, V8 SS e Cambridge), e a Elac mostrou integralmente o motivo de tantos prêmios e de elogios tão efusivos!
Seu equilíbrio tonal é um exemplo para inúmeras books que não possuem as últimas duas oitavas nos graves e sofrem para ter um bom equilíbrio e um corpo correto nas baixas frequências. Bem posicionada e com um setup correto, a sensação que tivemos ao reproduzir órgão de tubo é que ela entregava bem mais que os 44 Hz nos graves (e estamos falando de uma sala de 50 metros quadrados).
Na nossa sala de home-theater de 12 metros, essa mesma gravação de órgão de tubo ganhou um deslocamento de ar impressionante, pois no espaço ideal a DBR62 consegue mostrar toda sua “autoridade”, presença e energia.
O equilíbrio tonal é tão bom que, mesmo em músicas como órgão de tubo, percussão, contrabaixo acústico ou elétrico, não existe aquela sensação de corpo esquelético ou falta de peso, que faz com que a região média-alta se projete e torne o equilíbrio tonal cansativo.
A região média é de uma presença orgânica magnífica, que só ouvimos nos melhores monitores de estúdio de gravação (tanto que indiquei para três amigos músicos que a utilizem em seus estúdios).
Para quem adora ouvir os detalhes da microdinâmica, a Elac será um verdadeiro deleite auditivo. Mas graças ao seu impressionante equilíbrio tonal, este grau de transparência não tira a musicalidade e naturalidade do que ouvimos. E os agudos têm a extensão certa e o decaimento perfeito para nos fazer entender o tipo de reverb digital colocado na mixagem, e o tamanho das salas de espetáculo em que os discos foram produzidos.
Outra reclamação que sempre escuto é que muitas books tem um corpo nos agudos diminuídos, o que faz se perder o interesse em ouvir sem avaliar. Este não é o caso desta Elac. Ouvi inúmeros pratos de condução, justamente para tirar essa dúvida, e proporcionalmente ao tamanho do corpo de outros, outras frequências, o resultado foi muito coerente.
Uma das melhores características de toda boa book, é sumir e deixar apenas a música na sala. Algumas fazem essa “mágica” apenas com gravações excelentes tecnicamente, e as melhores a fazem com gravações que não são um primor técnico, mas em que o engenheiro soube ajustar os planos o foco e recorte no “pampot” da mesa de mixagem. Na Elac essas gravações soam magníficas também tanto em relação aos planos, como na altura e largura e no foco e recorte.
Gravações com diversos instrumentos bem captadas e com ar em volta de cada instrumento, são exemplos matadores deste quesito reproduzido nesta Elac.
Mas se tem um item que foi uma grande surpresa, esse foi a textura. Que capacidade de recriar em detalhes as intencionalidades, a qualidade do microfone, da captação, do instrumento e do músico. É tão impactante e correto, que foi mais uma qualidade que me levou a indicá-la como monitor de estúdio. Este grau de refinamento na apresentação de texturas, novamente, você só encontra em books e monitores de estúdio infinitamente mais caros que essa Elac!
Os transientes são impecáveis em termos de precisão e andamento. Elas soam intensas e com aquela sensação de querer
acompanhar com o pé o ritmo do acontecimento musical. Nada soa letárgico ou desinteressante.
A macrodinâmica (já que da micro eu já falei), obviamente que sofrerá limitação pelo tamanho físico, mas em volumes moderados e com um amplificador que imponha autoridade e controle, você terá alguns sustos, de como uma caixa deste tamanho consegue passagens de macrodinâmica sem estender a língua para fora ou jogar a toalha. Claro que não falo dos famosos tiros de canhão de Tchaikovsky, ou de ouvir no volume correto a Sagração da Primavera de Stravinsky, mas tirando os exemplos críticos para a avaliação deste quesito, a performance em macrodinâmica da Elac é muito honesta para o seu tamanho e preço.
O corpo harmônico da Elac também a colocou na categoria de books que “burlam”, dentro do possível, este quesito. Muitas books consideradas “de entrada” pelo seu preço possuem um corpo muito homogêneo em todo o espectro audível, não mostrando as diferenças por exemplo entre um contrabaixo e um cello.
Claro que não escutei na Elac as diferenças de corpo deste dois instrumentos, como escuto em nossa caixa de referência. Mas, na Elac, havia uma sutil diferença de tamanho entres esses dois instrumentos, totalmente audível.
A materialização do acontecimento musical (organicidade) não é um problema intransponível para ela, mas as gravações terão que ser aquelas tecnicamente impecáveis (como também na maioria das caixas book ou coluna de qualquer faixa de preço). Mas posso garantir que José Cura esteve em nossa sala, assim como Ella Fitzgerald e Louis Armstrong (estes dois últimos em LP).
CONCLUSÃO
Se muitos leitores duvidaram da qualidade e da nota da coluna da Pioneer, que na época custava menos de 2000 reais (acredite!), certamente esses leitores duvidarão da nota desta book, que toca de forma tão sedutora e admirável custando menos de 8 mil reais!
Se tens uma sala pequena, e está cansado de ter que conviver com books que cabem em seu orçamento e sala, mas que não lhe deixam totalmente satisfeitos, dê uma chance à DBR62 e as escute. Pode ser que ainda tenha aquela sensação de que um dia uma coluna entrará em sua sala para resolver sua insatisfação, mas tenho certeza que sua opinião a respeito das limitações das books serão dissipadas.
E se tudo que você busca para o seu sistema é uma assinatura que prime pela musicalidade e naturalidade, difícil será achar nesta faixa de preço uma book que seja melhor que esta Elac. Eu, nos nossos 25 anos de revista, não ouvi.
Se confias em minhas impressões, e ela cabe em seu orçamento, a longa e torturante peregrinação terminou!
PONTOS POSITIVOS
Excelente acabamento, e uma performance digna das melhores bookshelfs do mercado, por uma fração do preço delas.
PONTOS NEGATIVOS
Os terminais de caixa podem ser um problema para forquilhas.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | Bass-Reflex de 2 vias |
Resposta de frequência | 44 Hz – 35 kHz |
Impedância | 6 Ohms |
Sensibilidade | 86 dB |
Dimensões (L x A x P) | 36 x 21 x 27cm |
Peso | 8.2 kg (cada) |
CAIXA ELAC DEBUT REFERENCE DBR62
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 11,0
Textura 12,0
Transientes 11,0
Dinâmica 9,0
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 10,0
Musicalidade 12,0
Total 86,0
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 9,0
Link para o teste completo: