Agora que a Mark Levinson está com um novo distribuidor no Brasil, começam a chegar para testes os novos produtos da marca, lançados no final de 2019 e começo de 2020.
A pandemia realmente mudou toda a estratégia de mercado, pois sem eventos, seminários e com problemas de estoque de peças, muitas entregas tiveram que ser adiadas e revistas. Cito isso, pois no nosso cronograma de testes esse integrado deveria ter sido avaliado no último trimestre do ano passado, e não agora.
Mas, felizmente, o produto chegou e podemos compartilhar nossas impressões com vocês e dizer de cara o quanto ele é bom.
Da série 5000, considerados os produtos de entrada deste fabricante, existem dois integrados, o No.5802 e o No.5805 (que esperamos poder em breve testar). Lá fora a diferença de preço é de 2000 dólares, entre os dois.
E se você for um amante de analógico, precisará optar pelo No.5805, pois ele tem um pré de phono MM e MC embutido, e um outro importante diferencial em relação ao No.5802: entradas analógicas!
Sim, meu amigo, esse é o primeiro integrado nos 25 anos da revista que testamos que não possui nenhuma entrada analógica. Algo que, no meu modo de ver e vivenciar o mercado de áudio, seria inadmissível até dois anos atrás. Mas a velocidade com que o mundo, costumes, valores e tendências mudaram, faz todo o sentido imaginar consumidores que desejem apenas entradas digitais de todos os tipos (e isso o No.5802 tem aos montes).
Os amantes do design, acabamento e durabilidade da marca, não terão do que reclamar, pois este modelo de entrada continua sendo um Mark Levinson, desenvolvido e construído nos Estados Unidos e com o mesmo apelo que a marca oferece há mais de quatro décadas.
O painel frontal continua sendo de alumínio sólido, de uma polegada de espessura, jateado e anodizado em preto, com os botões duplos em prata e o display colorido em LED vermelho. Além dos dois botões e do display ao centro, esse integrado possui um amplificador de fone com saída de pino de 6,35 mm. O integrado vem com um controle remoto de alumínio, comum a toda série 5000.
Estranho descrever a traseira sem nenhuma entrada analógica, e apenas uma saída RCA – caso o usuário deseje ligá-lo a um power externo. Além da tomada IEC e dos terminais de caixa, existem: uma entrada AES/EBU, uma USB 2.0, duas S/PDIF coaxial e duas S/PDIF óticas com capacidade PCM de 32-bit/192kHz e DSD 5.6, e decodificação MQA (Master Quality Authenticated) suportada em todas as entradas digitais – incluindo a USB assíncrona. A entrada de áudio Bluetooth é integrada com suporte para codec aptX HD. Ainda no painel traseiro, encontra-se uma entrada Ethernet (RJ45) utilizada para atualizações de firmware, uma conexão RS-232 (DB9) para controle de automação, e um trigger de 12V, além de uma entrada IR via conector de 3,5 mm.
Os engenheiros da Mark Levinson apostaram todas as fichas no DAC Mark Levinson Precision-Link II, todo baseado no chip DAC ESS Sabre de 32-bit, com um sistema desenvolvido pelo fabricante para a eliminação de jitter. Trata-se de uma topologia de distorção e ruído ultra baixos, com uma relação sinal/ruído de 120 dB (segundo o fabricante).
A amplificação é uma topologia classe AB de acoplamento direto e alimentado por um transformador toroidal de 500 KVA com enrolamentos secundários individuais, trabalhando em conjunto com quatro capacitores de 10.000 microfarads por canal, e com uma potência nominal de 125 Watts em 8 ohms, e 250 Watts em 4 ohms. O fabricante afirma que o No.5802 é estável até 2 ohms, o que o torna compatível com uma enorme quantidade de caixas existentes no mercado.
O peso final do No.5802 é de 27,6 kg, e aconselho aos futuros donos deste integrado que peçam ajuda ao desembalar e colocá-lo no rack.
Para o teste, utilizamos o streamer da Innuos Mini Zen MK 3 com fonte externa, e cabos USB Kubala Realization e Sunrise Lab Aniversário. E com o nosso transporte Nagra ligado ao No.5802 com o cabo AES/EBU Absolute Dream da Crystal Cable e com o coaxial Quintessence Aniversário da Sunrise Lab.
Gostei da possibilidade do No.5802, depois de um tempo sem sinal, entrar automaticamente em stand-by – nos dias de hoje, com o preço da energia elétrica, é uma opção importante. Pois minhas contas mensais já passaram de 500 reais por mês, faz mais de dois anos! O dia que eu receber produtos para teste já integralmente amaciados, criarei um prêmio especial para esse distribuidor, rs… Pois brinquei outro dia com o Chris Pruks que estou ficando velho para esperar o amaciamento de todos os produtos por nós testados – e manter todos ligados simultaneamente em vários cômodos da casa se tornou um problema, agora que os filhos cresceram e reivindicam mais espaços.
Às vezes tem produto em amaciamento até no sótão da casa, e quando arma os temporais de verão, é um corre-corre para tirar tudo da tomada. Fazer isso constantemente quando se tem 40 ou 50 anos é uma coisa, mas com 64, e ainda cardíaco, é outro panorama.
E é óbvio: o No.5802 veio lacrado para teste! À princípio ele ficou em repeat com um velho DVD da Yamaha e as caixas Elac Uni-fi, e posteriormente com a Wharfedale Elysian 4 (leia Teste 1 nesta edição). Mas, antes de ir para amaciamento, fizemos a primeira impressão com as caixas JBL L82 Classic (leia teste edição de fevereiro de 2022) e com as recém chegadas JBL L100 Classic (em fase final de amaciamento), e a Estelon X Diamond Mk2 (em fase inicial de amaciamento).
Como ele não possui entrada analógica nenhuma, foi impossível neste primeiro contato ouvir nossa lista de LPs, que sempre escuto nessa Primeira Impressão (algo que confesso que não gostei).
Minhas anotações iniciais foram: silêncio de fundo impressionante, em que os sons brotam à nossa frente com ótimo foco e recorte. Achei o equilíbrio tonal muito correto para um produto totalmente frio. Voltamos a ouvi-lo novamente com 50 horas, e as mudanças não foram grandes, com exceção de uma melhora nos planos em relação a largura e profundidade, o que tirou aquela frontalidade inicial, tão comum em produtos sem queima alguma.
Deixamos mais 100 horas em amaciamento, já que estávamos terminando o teste da JBL L82 Classic. E com 150 horas decidimos por iniciar o teste, escutando-o com as Wharfedale, tanto streamer como CD.
Acho que a maioria dos nossos leitores que abriram mão de mídias físicas, irá gostar muito do No.5802, pois seu DAC interno é excepcional e sua potência e assinatura sônica o faz compatível com inúmeras caixas. O Mark Levinson No.5802 não teve nenhum problema em conduzir as Elac Uni-Fi, as duas JBL Classic (L82 e L100), as Wharfedale, as Wilson Sasha DAW e as Estelon X Diamond Mk2.
Sua assinatura sônica é muito equilibrada, na medida correta entre transparência e naturalidade. E nas três entradas utilizadas (USB, Coaxial e AES/EBU) o resultado foi excelente!
Os agudos têm muito boa extensão, decaimento suave e velocidade correta. Em comparação com o nosso DAC de referência, se mostrou com um pouco menos de corpo nas altas, mas nossa referência custa dez vezes o preço do DAC interno do ML). A região média é muito correta, precisa, com uma apresentação sempre muito coerente e agradável.
Mesmo gravações com muita complexidade e variação dinâmica e de transientes, a inteligibilidade é muito boa.
E os graves surpreenderam tanto na qualidade como na precisão, energia e deslocamento de ar.
Tanto que minha sugestão, para os futuros compradores da linha Classic da JBL, se quiserem também realizar um upgrade no integrado, que escutem tanto o No.5802 quanto o No.5805 (caso necessitem de entradas analógicas, como eu).
A autoridade do ML sobre todas as caixas utilizadas no teste, mostrou a qualidade deste amplificador em conduzir com eficácia caixas tão distintas.
O soundstage, se tivesse a oportunidade de usar um DAC externo, acredito que tiraria ainda um ‘caldo’ a mais deste quesito (como o No.5805 virá para teste, poderei sanar essa dúvida). Achei que o DAC interno é muito melhor em largura e profundidade do que em altura. Claro que isso pode ser, para muitos de vocês, algo secundário, mas sempre lembro aos que desejam um setup que engane seus cérebros, que corpo ‘pizza brotinho’ e músicos todos tocando sentados, não conseguirá jamais enganar sequer o cérebro de uma criança. O No.5802 não chega a tanto em fazer todos virarem tabladistas, mas a altura não é a que estamos acostumados em ouvir.
A apresentação das texturas foi excelente, fazendo-nos observar com facilidade a qualidade dos instrumentos, as escolhas dos microfones e a técnica dos músicos. Gostei muito e fiz grandes elogios à qualidade das texturas!
Os transientes foram ‘pêra doce’ para o No.5802. Os amantes de música com muito ritmo, irão amar este integrado. Gosto muito do CD do Joe Satriani de capa laranja, que na minha opinião é o melhor disco dele, tanto tecnicamente como artisticamente, e quando os transientes estão corretos é uma delícia de ouvir, pois existe uma precisão de tempo e andamento absurda, que nos faz colocar um enorme sorriso na boca e acompanhar batendo os pés.
A dinâmica também me surpreendeu tanto na micro, como na macro. Ainda que falte aquela folga final, que separa os meninos dos homens, ele se mostrou um ‘adolescente’ de muito potencial. E sua apresentação de microdinâmica é exemplar em sua faixa de preço.
O corpo harmônico foi a segunda dúvida que fiquei (será que é o DAC ou o amplificador?). Espero ter essa resposta em breve, quando testar o No.5805. Pois arrisco dizer que seja o DAC que reproduz os corpos um pouco menores que em outros integrados top de linha (mas que custam o dobro do seu preço) mas que foram testados com nosso setup digital de referência – então terei que deixar em aberto esse quesito em termos de conclusão definitiva. Aguardem o teste do No.5805, que teremos a resposta, ok?
A materialização física é muito boa, nos dando a sensação do acontecimento musical em nossa sala, e só não é mais fidedigna, pela questão da altura e do corpo, algo que insisto, pode ser do DAC ou de ambos. Sem tirar essa dúvida, me abstenho de dar opinião.
Mas, aí vem à mente as perguntas: a quem se destina esse integrado? Esses ’detalhes’ realmente importam? Acho que não, pois se a referência for exclusivamente streamer, as limitações sonoras são muito maiores que esses dois detalhes. Essa questão só se torna pertinente caso o consumidor tenha ainda mídia física ou escute downloads em alta definição.
Então, as duas questões levantadas quero que sejam encaradas de maneira bem restrita, certo?
CONCLUSÃO
Gostei muito do No.5802, ainda que não seja um produto para mim pela falta de entradas analógicas, mas que certamente atenderá uma legião de consumidores jovens que desejam um integrado de excelente performance, prático, construído de forma impecável e pelas mãos de um fabricante que é uma verdadeira referência no mercado hi-end.
Na sua faixa de preço existem dezenas de opções, mas poucos certamente terão uma assinatura sônica tão natural, e um grau de compatibilidade tão alto com inúmeras caixas acústicas.
E seu DAC interno possui qualidades de produtos Estado da Arte.
Se é um integrado com essas características que você está buscando, ouça tanto o No.5802 quanto o No.5805, no mínimo você irá se surpreender tanto com sua construção, como sua
performance.
PONTOS POSITIVOS
Excelente sonoridade e alto grau de compatibilidade com inúmeras caixas.
PONTOS NEGATIVOS
Nenhuma entrada analógica.
ESPECIFICAÇÕES
Potência | • 125 watts por canal em 8 Ohms (20-20.000 Hz) • 250 watts por canal em 4 Ohms |
Distorção harmônica total | • 0.035% em 1 kHz (125W, 8 Ohms) • 0.18% em 20 kHz |
Seção de potência | Classe AB dual-mono |
Seção de pré-amplificação | Classe A analógico (com corrente para empurrar fones de ouvido através da conexão de 1/4” do painel frontal) |
DAC | • Precision Link II DAC • 32-bit PCM/384 kHz, e DSD 11.2 MHz • Decodificação MQA em todas entradas (incluindo USB assíncrona) |
Controle remoto | Através do controle remoto de alumínio incluso, ou pelo app Mark Levinson 5Kontrol para Android e iOS |
Bluetooth | Receptor incluso com codec with aptX HD |
Transformador | 500 VA toroidal |
Conexões | • 1 AES/EBU digital XLR • 1 USB Type-B • 2 S/PDIF coaxiais • 2 S/PDIF óticas • 1 saída RCA estéreo variável (pré) • Saída para fones de ouvido de 1/4” • Saídas para 1 par de caixas acústicas • Controle Ethernet (RJ-45), RS-232, 12V trigger, IR de 3.5mm |
Dimensões (L x A x P) | 41.2 x 14.6 x 50.8 cm |
Peso | 28 kg |
AMPLIFICADOR INTEGRADO MARK LEVINSON No.5802
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 11,0
Textura 12,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 11,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 12,0
Total 94,0
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0
Link para o teste completo: