Faz tempo que estávamos na fila para testar a nova série 5000 da Mark Levinson, lançada em 2020 no meio da pandemia, constituída do novo amplificador Nº5302, do pré-amplificador Nº5206, do streaming Nº5101 e do toca-discos Nº5101.
Nesse primeiro momento, recebemos o amplificador e o pré – e pelo alto nível de performance de ambos, resolvemos separar os testes. Nossa avaliação do pré será publicada na edição de setembro de 2023.
Segundo Jim Garrett, diretor sênior de estratégia e planejamento de produtos da Harman Luxury Audio, o novo 5302 é um amplificador fenomenal que possui o DNA da Mark Levinson levado ao extremo, com a capacidade de acionar praticamente qualquer falante, seja no modo estéreo ou mono.
Segundo o fabricante, para se atingir esse nível de versatilidade e desempenho, os canais de classe AB são totalmente discretos, e utilizam um transformador toroidal de 1100 VA superdimensionado, com enrolamentos secundários individuais para os canais esquerdo e direito.
Seu estágio de ganho de tensão emprega topologia similar do amplificador top de linha, o modelo Nº534 que, como este, possui um estágio de saída composto por dois transistores de driver de alta velocidade, operando em classe A, e seis transistores de saída de 260V, 15 Ampéres. Dois dispositivos Thermal Trak em uma configuração exclusiva, garantem uma saída estável, independentemente da carga ou temperatura.
Utiliza quatro capacitores de 10.000 microfarades por canal, localizados diretamente na placa de circuito de estágio de saída, fornecendo corrente suficiente para 135 Watts por canal em 8 ohms, 270 Watts em 4 ohms e 550 Watts em mono ou ponte.
Utiliza conectores de entrada XLR ou RCA, e para integração com outros produtos Mark Levinson: entrada IR, e entrada e saída de gatilho 12V.
O acabamento segue o padrão Mark Levinson em todos os detalhes, como: uma frente maciça de 1 centímetro de espessura, jateada com esferas de vidro no painel central anodizado em preto, com as alças de alumínio anodizado em cinza. Nas laterais do gabinete temos as aletas de resfriamento que se fundem perfeitamente com as linhas de todo o design.
Aceso, o painel segue o padrão de cor vermelha com um aro ao centro do painel, que fica levemente piscando quando em standby. São 31 kg, e não aconselho ninguém a desembalá-lo sem ajuda.
Agora, se você for daqueles audiófilos que são extremamente ansiosos e loucos para ver e escutar seu novo ‘brinquedo’, tire-o da caixa pelas alças, para não correr nenhum risco.
Para o processo de amaciamento, ligamos o power e o pré, já que ambos vieram lacrados. E à medida que fomos escutando sua evolução, percebemos que poderíamos perfeitamente mistura-los com outros equipamentos, para poder sentir seu nível máximo de performance.
Mas a nota final será a média dos dois prés que melhor casaram com o Nº5302, OK? Usamos os seguintes prés: Mark Levinson Nº5206 (leia teste na edição de setembro), pré-amplificador P1F E power A2700 Elipson (leia teste na edição de junho), e o Classic Preamp da Nagra. Sempre com cabo de interligação XLR QED Reference (já que nenhum leitor se interessou em comprar esse excelente cabo que coloquei a venda por um valor irrisório pela sua performance, voltei a utilizá-lo nos nossos testes), e o Dynamique Audio Apex. Fontes analógicas: toca-discos Pro-Ject X8 (leia Teste 2 nesta edição), Bergmann Modi e Origin Live Sovereign Mk4. Pré de phono Gold Note PH-1000. Fonte digital e streamer: Innuos ZENmini Mk3, Transporte Nagra, DAC dCS Bartok Apex, e Nagra TUBE DAC. Caixas acústicas: Harbeth 30.2 XD (leia Teste 3 nesta edição), Audiovector QR 5, Boenicke W5 e Estelon X Diamond Mk2.
A primeira dica é para todo ansioso: se quiser desfrutar da performance desse power, vai ter que aprender a controlar sua ansiedade. Pois ele necessita de pelo menos 180 horas de amaciamento. Ou seja, de 20 a 30 dias para saber o nível de performance desse belo amplificador.
Belo na aparência, belo na construção, belo no silêncio de fundo e belo quando ligado a um sistema no mesmo nível. Claro que o power junto com seu pré, é a escolha mais óbvia a se fazer.
Porém, a realidade sempre pode ser bem distinta do ideal, e o audiófilo estar apenas buscando naquele momento um upgrade em seu power. Aí entra o nosso trabalho em descobrir o grau de compatibilidade dele com outros prés.
E com 200 horas de amaciamento, separamos os Mark Levinsons e os colocamos para trabalhar com o pré da Elipson e da Nagra, e no caso do pré da Mark Levinson: com o power da Elipson, com o power da Gold Note P-10 e com os monoblocos Nagra HD.
O power Mark Levinson possui excelente compatibilidade, o que só lhe acrescenta pontos adicionais quanto a esse quesito. E o que mais nos surpreendeu foi o quanto ele se sentiu confortável com prés tão distintos como o Elipson e o Nagra.
O mesmo nos surpreendeu quanto às quatro caixas utilizadas no teste, no qual o Mark Levinson as conduziu com enorme autoridade e precisão.
OK que nenhuma das caixas eram obstáculos intensos, mas a Estelon é bastante exigente com seus pares, e o Mark Levinson não teve a menor dificuldade em a dirigir.
Seu equilíbrio tonal é muito correto, com graves perfeitamente bem definidos, articulados, velozes e com enorme energia. Ouvir solos de contrabaixo no 5302 é um deleite, assim como bumbos, tímpanos e órgão de tubo. Não há restrições ao seu grau de deslocamento de ar, se a caixa o acompanhar. Para os amantes de música com instrumentos eletrônicos, será muito prazeroso entregar essas gravações para ele.
A região média, a princípio (antes das 200 horas), parecia que tenderia a soar mais para o ‘ultra realista’ do que o normal, porém se tratou apenas de falta de queima, e o médio-grave encaixar corretamente e abrir, e ampliar a resposta de corpo harmônico.
Quando tudo foi para o lugar, os médios mantiveram uma incrível precisão na apresentação de microdinâmica, mas não se tornando o protagonista do evento musical.
“Exemplos, Andrette, compartilhe exemplos!!!!!!!”
OK! Quer saber se a microdinâmica está ocupando mais espaço do que deveria? Ouça instrumentos que estejam soando na região de 800 a 5000 Hz, como várias percussões, sopros de madeira, em que no meio do acontecimento musical aparece uma ou duas notas, ou coral de apoio. E se quando esses elementos entram, eles tomam o lugar do tema e tiram sua atenção do todo, a região média está ‘hiper realista’ e alterando o equilíbrio tonal nesta região.
É comum isso ocorrer? Em sistemas em que a eletrônica quer ser mais ‘real’ que a realidade, sim. E isso muitas vezes é feito de forma consciente pelo projetista, pois ele quer que sua eletrônica tenha esse diferencial. Um dos truques utilizados é baixar o máximo possível o ruído de fundo para que essa microdinâmica se torne mais audível.
O problema é que se paga um preço por essa escolha.
Qual?
Fadiga auditiva! Pois cada vez que você desconcentrar do todo para ouvir um detalhe que te chamou a atenção, sua desconcentração vai sendo acumulada.
Escolhas, meu amigo, sempre escolhas!
Confesso que até as duzentas horas, temi que o power da Mark Levinson tivesse essa característica, mas foi apenas falta de amaciamento.
Isso me lembra duas coisas: os que não acreditam em queima de equipamentos e os que enchem o peito para dizer que todos os amplificadores de estado sólido bem construídos soam iguais!
Fico me questionando se essas pessoas realmente acham que têm capacidade auditiva para avaliar produtos? Pois quando cito esse exemplo da mudança que foi a região média depois de 200 horas de queima, se torna impossível defender que eletrônica não precisa de burn- in.
Pois as diferenças são todas audíveis!
E à legião que defende que bons powers bem construídos soam todos iguais, minha única resposta é: passem 27 anos testando uma centena de powers e integrados, e descobrirão que isso é uma falácia!
Os agudos antes das 200 horas soam duros e engessados. O que certamente coloca aquela dúvida na mente do audiófilo inseguro: “será que esse agudo irá melhorar”? Irá sim, meu amigo, e muito! Ganhará uma enorme extensão, decaimento correto, corpo, velocidade e perderá todo o brilho excessivo das primeiras 200 horas!
O soundstage desse Mark Levinson é excelente, com planos extremamente bem focados, recortados e 3D.
Casado com o Nagra Classic Preamp, que é um pré à válvula, o palco ficou absolutamente divino e com um 3D muito próximo ao que ouço nos powers Nagra HD! O que é um mérito e tanto, devido à diferença de preço entre ambos.
O foco, assim como a recriação de ambiência e o arejamento em volta dos instrumentos solo e vozes, é nível referencial dos melhores entre os top!
As texturas são fáceis de acompanhar, observar a qualidade dos instrumentos, a técnica do músico e suas intencionalidades, com esforço zero.
Seu cérebro se rende e segue apenas o rastro da música à sua frente.
Os transientes foram um dos quesitos que mais me chamaram a atenção, mas quando o power está ligado ao seu par de natureza (o pré também da Mark Levinson), a faixa 3 do disco I Ching do grupo UAKTI ficou simplesmente magistral em termos de tempo e precisão nesse conjunto da Mark Levinson. Diria que, aos apaixonados por rock e blues, o ideal é não separar essa dupla. Eles conseguem nos convidar a dançar, e aos mais tímidos a baterem os pés sem perceber.
O fabricante não mentiu quando disse que o power está pronto para todo desafio. Sua reprodução de macrodinâmica é exemplar, e pode colocar um ponto final na questão de que 135 Watts em 8 ohms seja muito pouco para determinados gêneros musicais. A questão, como sempre lembramos, não é a quantidade mas sim a Qualidade desses Watts!
Nem à Abertura 1812 de Tchaikovsky, nos famosos tiros de canhão, o Mark Levinson se curvou. É assustador, meu amigo, ouvir e ver o que o woofer precisa fazer para reproduzir esses tiros e com que autoridade o Mark Levinson imprime as caixas nesse desafio!
A micro, como já escrevi, depois de todo o processo de amaciamento, voltou para o seu devido lugar em um sistema realmente hi-end, e tudo que foi captado e não sofreu perda no processo final, estará lá.
O corpo harmônico é de uma fidelidade só presente nos melhores powers da atualidade, e a materialização do acontecimento musical à nossa frente, idem!
Muitos leitores me perguntam qual a diferença no quesito organicidade, de trazer o acontecimento musical para o nosso quarto, e de ser transportado para o local do acontecimento musical? Essa resposta darei em breve no Opinião, quando tratar especificamente da organicidade.
Mas o leitor que possui uma sala acusticamente tratada, com dimensões acima de 30 metros quadrados e um setup bem ajustado Estado da Arte, certamente já experienciou as duas possibilidades.
O que estou querendo dizer com isso?
É que a segunda hipótese, de você ser transportado para o local do acontecimento musical, só ocorre se todas as etapas da busca pelo melhor ajuste foram realizadas. Do contrário, o máximo que conseguimos é: nas excelentes gravações, em um sistema de bom nível e bem ajustado, materializar o acontecimento musical em nossa frente.
A questão então é: qual das opções é mais impressionante?
Essa resposta darei em detalhes, quando falar a respeito de Organicidade, no Opinião.
O que importa é que esse power da Mark Levinson faz bem a lição de casa, e colocou o tenor José Cura, do disco Anhelo, materializado a dois metros à minha frente, em pé com a orquestra toda em arco à sua volta! O que, para sua faixa de preço, é digno de aplausos!
CONCLUSÃO
Lá fora, este power custa 9000 dólares e concorre com uma legião de powers de marcas famosas e estabelecidas também há décadas no mercado.
Eu diria que seu grande diferencial é que ele custa, em média, apenas 2 a 3 mil dólares mais caro que powers da Bryston, Parasound, Legacy, etc, e 5 mil dólares a menos que powers também famosos lá fora. E esse é seu grande diferencial. Pois está muito acima em termos de performance que os powers até 6 mil dólares, e muito próximos dos melhores powers até 16 mil dólares!
Ou seja: é um senhor ‘best buy’ em todos os aspectos que se avalie, sejam eles explicitamente racionais ou de algum componente emocional como paixão pela história da marca, design, etc.
Diria que, com essas qualidades todas, ele está nadando de braçada em um mar calmo em que ele dita as regras.
Se você busca para o seu sistema um power com um histórico como empresa desse nível, e uma performance tão alta que o ‘desloca’ da concorrência abaixo e acima, você precisa ouvi-lo com total interesse.
Foi uma das grandes surpresas do ano até esse momento!
PONTOS POSITIVOS
Um power de alto nível em todos os critérios hi-end.
PONTOS NEGATIVOS
Nenhum na sua faixa de preço.
ESPECIFICAÇÕES
MODO ESTÉREO | |
Potência de saída | • 135W / canal, 8Ω • 270W / canal, 4Ω |
Ganho | 25.8dB |
Sensibilidade de entrada | 145mV RMS |
Distorção Harmônica Total (THD) | <0.04% em 1kHz (135W, 8Ω) <0.35% em 20kHz (135W, 8Ω) |
Relação sinal/ruído | 102dB (20Hz a 20kHz, 135W/8Ω) |
Conexões de controle | • 1 RS-232 (DB-9) • 1 Ethernet (RJ-45) • 1 USB (firmware update USB-A) • 1 entrada IR (1⁄8”/3.5mm phone jack) • 1 entrada 12V DC trigger • 1 saída 12V DC trigger input |
Consumo | • Máximo: 1000W • Ocioso (estéreo): 90W • Ocioso (modo bridge): 70W • Stand-by: 35W • Stand-by modo econômico: 2W |
Dimensões (L x A x P) Peso (somente equipamento) | 438 x 145 x 457 mm 31.7kg |
Dimensões (L x A x P) Peso (embalado) | 616 x 346 x 737 mm 38.5kg |
MODO MONAURAL (EM BRIDGE) | |
Potência de saída | • 275W, 8Ω • 550W, 4Ω |
Ganho | 31.8dB |
Sensibilidade de entrada | 73mV RMS |
Distorção Harmônica Total (THD) | <0.04% (1kHz, 275W, 8Ω) <0.3% (20kHz, 275W, 8Ω) |
Relação sinal/ruído | 105dB (20Hz to 20kHz, 275W/8Ω) |
GERAL | |
Resposta de frequência | 20Hz a 20kHz (+0/–0.35dB) <2Hz a 80kHz (+0/–3dB) |
Impedância de entrada | • Balanceada (XLR): 100kΩ • RCA: 50kΩ |
Entradas | • 1 par balanceada XLR (linha) • 1 par single-ended RCA (linha) |
Saídas | 2 pares de bornes multi-way de alta corrente |
AMPLIFICADOR DE POTÊNCIA MARK LEVINSON Nº5302
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 13,0
Textura 12,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 13,0
Organicidade 13,0
Musicalidade 12,0
Total 100,0
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 10,0
Link para o teste completo: