Depois de testarmos toda a linha Reference e Debut Reference, com a participação de todos os nossos colaboradores (Juan Lourenço e Christian Pruks), achei que não iria me surpreender com nenhuma outra Elac de preço acessível ainda a ser avaliada.
E aí fomos convidados a conhecer a série Uni-Fi, e sua book 2.0 UB52, uma caixa com dimensões ainda menores que a Debut Reference, mas com um grande diferencial: trata-se de uma book de três vias com o uso de um falante concêntrico, com um tweeter embutido no médio de cone de alumínio de 4 polegadas, com um conjunto de imã de neodímio aprimorado da versão anterior UB5.
E o falante de grave de 5,25 polegadas também utiliza um cone de alumínio.
Em relação à UB5 que não conheci, as dimensões são um pouco diferentes, sendo a nova versão um pouco mais alta, porém mais estreita e mais profunda. O duto agora foi colocado na parte frontal do gabinete, justamente para permitir que as caixas possam ficar mais próximas da parede às costas delas. O gabinete também sofreu alterações com o uso de MDF mais espesso, cantoneiras internas de maior rigidez para se reduzir vibrações e colorações.
O novo crossover possui, segundo o fabricante, maior linearidade e melhor integração entre os drivers (os pontos de crossover são 200 Hz e 2 kHz, e no modelo anterior o corte em cima era em 2,7 kHz). Sua sensibilidade é de 85 dB (o que irá exigir um amplificador mais ‘parrudo’), e a impedância nominal é de 6 ohms, e mínima de 4 ohms.
Para baratear custos, a única opção de acabamento é o vinil black ash. Lá fora ela custa U$599, uma faixa com inúmeros concorrentes de peso.
Recebemos a Uni-Fi 2.0 (permita-me abreviar), totalmente zerada. O que nos levou a uma breve primeira audição e direto para a tortura de amaciamento junto com o integrado da Leak Stereo 130, que também chegou na mesma semana.
Para o teste, utilizamos os seguintes equipamentos: pedestais da Magis, Audio Concept e Timeless. Cabos de caixa: Virtual Reality Trançado, e Oyaide Across 3000B. Integrados: Krell K-300i (leia Teste 2 nesta edição), Leak Stereo 130 (teste na edição de setembro), e Sunrise Lab V8 Anniversary 20 anos (leia teste edição de agosto). Fontes digitais: streamer Innuos ZENmini Mk3, CD-Player Mark Levinson No.5101 (leia teste na edição 285), DAC MSB Reference (leia Teste 1 nesta edição), Transporte e TUBE DAC. Toca-discos: Thorens TD 1601 (leia teste na edição de agosto), com cápsula ZYX Bloom 3 (leia teste na edição 274). Pré de phono do integrado V8 Anniversary, e Gold Note PH-1000.
Ainda que a Uni-Fi 2.0 seja uma das menores books já testadas, sua impetuosidade e capacidade de preencher com autoridade uma sala de até 20 metros, me lembrou a Boenicke W5SE, também de tamanho reduzido, que nos deixa perplexo como consegue driblar suas dimensões tão reduzidas.
Eu gosto muito de books de três vias, pois quando bem projetadas permitem uma uniformidade na apresentação do acontecimento musical, muito mais coerente e agradável em termos de inteligibilidade.
Isso fica evidente em passagens complexas, em que nas books de duas vias o falante de médio-grave tem que cobrir duas extensas pontas sem se esquecer da região média, e isso muitas vezes se traduz em menor corpo harmônico nos médios-graves, ou uma menor inteligibilidade em passagens com muita informação em uma mesma frequência. É o famoso ‘cobertor de pobre’ – afinal são escolhas que o projetista precisa fazer.
Isso ficou muito claro quando, recentemente, testei as JBL L82 e L100 Classic, que possuem os mesmos drivers, e o quanto a L82 Classic se esforça para cobrir uma região que se estende de 52 Hz a 1700 kHz. Tocando as mesmas faixas no mesmo volume, em ambas as caixas, o grau de conforto auditivo e de inteligibilidade, na L100, são muito maiores!
Para o leitor que possui um gosto musical em que as variações dinâmicas são frequentes, e escuta obras com muitos instrumentos, ter a possibilidade de escolha de uma book de três vias sempre terá vantagens, acredite.
Esse é o maior mérito da Uni-Fi 2.0, o ‘descongestionamento’ e a organização de tudo que esteja dentro do espectro de 60 Hz até 2 kHz, pois sua desenvoltura nessa ampla faixa é realmente impressionante.
Claro que se paga um preço por se colocar três vias em um gabinete tão reduzido. O uso de um falante concêntrico, se por um lado nos dá um foco e recorte cirúrgico, por outro lado o corpo harmônico dos instrumentos nessa frequência serão um pouco menores. Mas se tratando de books (sempre haverá uma perda neste quesito, não tem escapatória).
O importante é que na Elac Uni-Fi 2.0 o corpo harmônico é bem coerente, sem riscos de ouvirmos um violino com corpo maior que um contrabaixo, por exemplo.
É uma caixa que precisa de pelo menos 150 horas de amaciamento para podermos ter certeza de que seu equilíbrio tonal se aprumou. Antes do amaciamento total, a região média hora aparece frontalizada, hora recuada demais em relação aos agudos. A dica de que o martírio do amaciamento chegou ao fim, é colocar um quarteto de cordas ou um piano solo (boas gravações, claro) – e observar como a região média-alta se comporta. Se ficar oscilando, com certas frequências mais frontalizada e outras mais recuadas, ainda não amaciou completamente. Pois quando estiver 100%, há um encaixe e cessa qualquer tipo de oscilação.
Eu costumo também usar, em falantes concêntricos, saxofone alto e violino, pois ambos cobrem bem essa região em suas três oitavas (seja com as notas fundamentais ou com primeiro, segundo e terceiro harmônico).
Com 150 horas, toda oscilação finalmente cessou, possibilitando iniciarmos o teste e avaliação de todos os quesitos da Metodologia.
Como estava descrevendo, o equilíbrio tonal da Elac é muito bom, ainda que se o projeto não fosse de um concêntrico, os agudos poderiam ter um pouco mais de extensão e decaimento suave nas altas – o que é necessário para se ter uma maior fidelidade da ambiência em que as gravações foram feitas (algo que nos meus 50 anos de audiófilia, vi poucos darem a devida importância a esse detalhe).
E a vantagem deste tweeter ter menor extensão, é que gravações tecnicamente com excesso de brilho nas altas ficarão mais palatáveis aos ouvidos.
Escolhas meu amigo, sempre elas que irão nos fazer declinar ou abraçar qualquer produto.
A região média é surpreendentemente bem definida, e com um grau de transparência muito bom para a sua faixa de preço. Permitindo um grau de inteligibilidade de modelos muito mais caros. Como é muito coerente e plano dos 200 Hz aos 2000 kHz, toda a informação nessa faixa do espectro audível será notada sem nenhum esforço adicional. Essa foi uma das qualidades que mais chamaram a atenção de quem ouviu essas Elacs, sendo que todos os amigos músicos que o fizeram, ressaltaram que nessa região ela se comporta como um monitor de estúdio, porém sem ser frio ou analítico.
Os graves conseguem ser articulados, precisos, com boa energia, sem, no entanto, terem aquele peso e fundação tão presente e encantador na L82 Classic. Então, para os amantes de graves, a Uni-Fi 2.0 não será a melhor pedida (a menos que exista a possibilidade do uso de um subwoofer para trabalhar até os 70 Hz). Acima de 60 Hz, o grave da Elac já tem boa definição e nos surpreende pela autoridade com que se apresenta. Você fica olhando para aquele pequeno gabinete se perguntando como um falante tão pequeno consegue dar conta.
Como nunca fui um grave dependente, eu jamais me incomodo. Para mim, mais que graves que desloquem a bainha da calça, o que importa é o corpo harmônico, definição, sustentação e velocidade. E nesses quesitos dentro de sua limitação de tamanho, a Elac se mostrou excelente.
Existe uma coerência no equilíbrio tonal desta caixa, de cima embaixo, encantadora, que se traduz em uma apresentação sempre detalhada, solta, bem articulada e refinada. O que significa muito para uma caixa nessa faixa de preço (não nos esqueçamos disso).
Seu soundstage está acima de outras books concorrentes, graças ao falante concêntrico, à suas dimensões, e à facilidade de poder aproximá-las da parede por seu duto estar na frente da caixa e não atrás.
Os cuidados serão com a altura do pedestal em relação ao ouvinte. O Timeless permitiu que o falante concêntrico ficasse na altura do meu ouvido, quando sentado na posição ideal de escuta, e com um leve toe-in para o centro (10 graus apenas, será o suficiente), com isso a materialização do foco, recorte e planos foi excepcional! A Elac possui boa largura e altura, e um pouco menos de profundidade.
As texturas são de alto nível, principalmente na apresentação da paleta de cores dos instrumentos, e no reconhecimento da qualidade dos instrumentos e dos músicos. Chegamos a ouvir a gravação da Janine Jansen, dos 12 Stradivarius, nela – e nos surpreendemos como foi fácil observar as diferenças dos instrumentos. Esse foi o exemplo que utilizei para apresentar as qualidades da Elac para três amigos músicos.
Os transientes são excelentes, nos permitindo acompanhar com total interesse o andamento e ritmo com precisão, jamais soou letárgico em nenhuma situação.
A macrodinâmica obviamente será limitada, mas em volumes decentes, preservando suas limitações, é possível sim ouvir o quarto movimento da Sinfonia Fantástica de Berlioz, ou a Sagração da Primavera de Stravinsky, em uma sala de até 12 metros sem perda de interesse na audição. Falta aquele peso nos tímpanos? Claro que falta! Mas a obra não é apenas essas passagens de macrodinâmica, certo? E a micro, graças à sua transparência na região média, é muito fácil de ser escutada.
O corpo harmônico, como escrevi no início do teste, ainda que seja menor que de uma coluna (por motivos óbvios), é bastante coerente, e o ouvinte não correrá o risco de ouvir um flautim com mais corpo que um sax barítono.
A organicidade sempre costuma ser mais fácil de materializar em projetos com falantes concêntricos (quando bem executados, claro). Aqui, nas gravações técnicas de alto nível, os músicos se fizeram presentes.
CONCLUSÃO
Eu me encantei tanto com a JBL L82 Classic (por outras qualidades) quanto pela Elac, e ter as duas no mesmo período para fazer esses aXb foi muito elucidativo.
Se a L82 é sedutora por dar a uma book um corpo e um peso tão mais próximo das colunas, a Elac me ganhou pela sua capacidade de reproduzir qualquer gênero musical com enorme liberdade e graça. Se eu tivesse algum conhecimento técnico e jeito, buscaria uma maneira de juntar as qualidades dessas duas books em uma só. Pois, dependendo da música que ouvia, ficava em minha mente fazendo conjecturas de como seria essa simbiose de juntar as qualidades de ambas. A diferença, além do preço (a L82 é muito mais cara), é que a book da JBL é para ambientes maiores (até 20 metros) e a Elac, para salas no máximo de 14 metros (sendo o ideal para salas de 9 a 12 metros).
Então, se o seu espaço é reduzido, mas você chegou à conclusão que sua eletrônica merece uma caixa mais refinada e correta, a Elac Uni-Fi 2.0 UB52 precisa ser avaliada. Pois ela é uma book preparada para qualquer desafio, e não escolhe gênero musical para mostrar a que veio.
Esse foi o último projeto do projetista Andrew Jones antes de sair da Elac, e li em várias entrevistas que ele tinha enorme orgulho do resultado alcançado.
Eu agora entendo perfeitamente o motivo!
PONTOS POSITIVOS
Uma bookshelf de uma musicalidade contagiante.
PONTOS NEGATIVOS
Sua sensibilidade irá exigir um integrado com autoridade e refinado como ela.
ESPECIFICAÇÕES
Tipo | Caixas bookshelf de 3 vias, bass-reflex |
Tweeter | 1 x 1 polegada, montado concentricamente |
Médio | 1 x 4 polegadas cone de alumínio |
Woofer | 1 x 5.25 polegadas cone de alumínio |
Frequências de crossover | 200 / 2.000 Hz |
Resposta de frequência | 46 a 35.000 Hz |
Sensibilidade | 85 dB (em 2.83 v/1m) |
Amplificação recomendada | 40 a 140 wpc |
Potência máxima | 140 wpc |
Impedância nominal | 6 Ω |
Blindagem magnética | Não |
Acabamento | Vinil black ash |
Dimensões (L x A x P) | 34.6 x 18.5 x 27.5 cm |
CAIXAS ACÚSTICAS ELAC UNI-FI 2.0 UB52
Equilíbrio Tonal 11,0
Soundstage 11,0
Textura 12,0
Transientes 11,0
Dinâmica 9,0
Corpo Harmônico 10,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 12,0
Total 87,0
VOCAL: 10,0
ROCK . POP : 10,0
JAZZ . BLUES: 10,0
MÚSICA DE CÂMARA: 10,0
SINFÔNICA: 8,0
Link para o teste completo: